quarta-feira, 29 de abril de 2009

Todo mundo merece


Sabe, andei pensando e acho que já está na hora de arrumar novos amigos. Ou pelo menos um novo amigo. Eu sei que minhas amizades antigas são eternas e que, apesar da distância, posso contar com elas. Mas não dá para ficar fazendo interurbano o tempo todo. Quero uma amizade para toda hora.

Não quero uma amiga casada, como eu. Eu já sei que todos as minhas crises de esposa são absolutamente normais, não preciso de nenhuma outra mulher histérica para me provar que eu não sou lá tão louca assim. De dramas domésticos, bastam os meus.

Mas também não quero uma amiga solteira. Nem livre, muito menos leve, nem solta. Estou muito feliz com meu estado civil, mas também não quero ficar ouvindo sobre os prazeres da solteirice. Além do que não pretendo correr o risco de uma bonitona perto do meu marido. (Mesmo as solteiras mais satisfeitas no fundo estão em busca de um casamento.) E acho que não vai me fazer nada bem conviver com alguém que tem tempo de sobra pra cuidar da pedicura, do cabelo, da pele... isso acabaria com a minha auto estima.

E nem precisa dizer, porque eu definitivamente não quero uma amiga feia e gorda. Isso nunca me colocou pra cima. Amiga boa que sou, acabaria chorando junto toda vez que ela não conseguisse fechar uma calça jeans. (E provavelmente comeria uma panela de brigadeiros junto com ela para levantar o astral. NOT a good idea.)

Um amigo homem também não dá. Os motivos são óbvios: não quero meu marido com amiguinha nenhuma. E como aqui se faz, aqui se paga... nada de amigos homens.

O que eu preciso mesmo, é de um amigo gay.

Dei-me conta disso hoje, na reunião do Vigilantes do Peso. (Emagreci 900 gramas, apesar da pizza de sábado e do brigadeiro que comi escondido ontem).


Logo notei no meio da mulherada um único “homem”, todo serelepe com um sorriso enorme no rosto ouvindo as conversas das minhas colegas gordinhas. Ele estava cheirosíssimo. Não que eu tenha fungado o moço (que por sinal estava apenas com uma barriguinha saliente, nada muito grave). Eu estava do outro lado da sala, mas com aquele cabelo arquitetamente penteado com gel, barba recém feita e camisa engomada, ele com certeza cheirava divinamente.


Enquanto eu o observava a nossa instrutora perguntou quem nunca tinha aberto a geladeira e comido uma salsicha gelada de uma vez, sem que ninguém (nem nós mesmos) percebesse. Não se tratava do tipo de pergunta que exige uma resposta. Era simplesmente para cada um refletir internamente e rir (e é claro que todas presentes nos identificamos), mas o novo colega logo levantou o braço todo feliz, com o dedinho para cima, costas eretas e joelhos juntinhos. Eu e as outras aniquiladoras de salsichas geladas o olhamos cheias de compaixão.

Fiquei pensando que delícia seria poder sair dali com ele e ir dar um passeio no shopping, dividir uma salada e uma água com gás. Que maravilha seria passear pelas vitrines comentando a moda outono-inverno 2009. Melhor ainda, que perfeito seria tê-lo como meu personal stylist, pra dar um upgrade no meu guarda-roupa. Seria simplesmente um arraso aprender novos truques de maquiagem. A gente faria compras e ele poderia olhar pra minha bunda o dia inteiro, mas só pra ver qual tipo de bolso valoriza o meu traseiro. A gente daria nota para os homens bonitos que víssemos passar e falaríamos sobre a raça masculina sem que isso comprometesse nossa amizade, nem meu casamento. Ou seja, zero competição. Seria mara ouvir os mil e um casos dele para me tirar do meu mundinho monogâmico de dona de casa. E além disso tudo a gente serviria de estímulo um pro outro no regime, trocando receitas light e tudo mais. Isso sim seria digno!

Todo mundo merece um amigo gay e eu estou morrendo de saudades do meu.








domingo, 26 de abril de 2009

Ex-novas-qualidades

Não sei porque as pessoas não falam abertamente sobre o casamento. Há uma discussão acerca do matrimônio, mas a real mesmo você só descobre passando pela experiência de casar.

É mais ou menos como a amamentação. As mulheres até dizem que dói um pouco e há toda aquela campanha de conscientização para futuras mamães sobre a importância do aleitamento. Eu via os comerciais com atrizes satisfeitas e seus bebês saudáveis e realmente não entedia porque alguém deixaria de amamentar um recém nascido, principalmente quando ele é seu. Opinião que eu sustentei até ter parte do meu mamilo digerido pelo meu bebê. Nenhuma atriz de TV contou no seu comercial que aqueles trapinhos de gente eram fortes o suficiente para sugar não só o leite, mas o seio também. Ninguém, absolutamente ninguém, explicou que amamentar envolvia mutilação corporal.

Com relação ao casamento a coisa é bem parecida. Todo mundo fala sobre a dificuldade da convivência,mas sempre de uma maneira bem sutil. As pessoas preferem ressaltar como é maravilhosa a vida de recém casado a divulgar suas brigas domésticas. Assim que meu marido e eu estabelecemos uma rotina em casa pude perceber que a tal dificuldade de convivência não era apenas um clichê usado por casais infelizes (onde eu e meu apaixonado marido obviamente não nos encaixávamos). Logo vi que o negócio era sério mesmo e muito mais grave do que tinha sido alertada.

Eu sempre tive orgulho da inteligência do meu marido... um intelectual jovem e bonito, com um futuro brilhante pela frente. Enchia a boca para dizer que ele era dono de uma mini biblioteca em casa. Foi casar e minha percepção mudou um pouco. Passei a achar um bocado doentia sua obsessão por livros sem graça e empoeirados que ele trazia diariamente para casa. Infelizmente, São Paulo é cheia de sebos, um prato cheio a cada esquina para meu maníaco intelectual. Comecei a me preocupar com o espaço... logo nós teríamos que nos desfazer dos móveis para abrigar todos aqueles livros rejeitados que ficam nas estantes a procura de um lar.

Que dizer do gosto musical? Era super interessante ele ser fã dos anos oitenta, até perceber que minha casa estava com um ar constante de elevador e sala de espera, com aquela música repleta de teclados e saxofones. Hello? Anos oitenta já era.

Eu sei que não é só ele que tem ex-qualidades. Eu também tenho as minhas.


Outro dia dei um salto quando meu marido urrou de ódio porque eu estava, pasmem, pisando no tapete! Claro, porque os tapetes foram feitos para tornar a casa mais divertida, você deve pulá-los como numa gincana. Ele explicou alguma coisa de germes e higiene... justo ele que tem teias de aranha atrás do computador.

Se algum homem estiver lendo este texto agora deve estar balançando a cabeça em afirmação e dizendo para si mesmo “Está vendo como são as mulheres?”. Eu sei o que dizem... todas nós nos apaixonamos por um Che Guevara revolucionário mas basta colocarmos o anel na mão esquerda e logo queremos que ele faça as barbas e vire um homem de verdade. Mas não pensem que isso é planejado. A gente realmente aprecia as características mais peculiares... inclusive nos apaixonamos por elas e elas simplesmente... simplesmente perdem a graça depois do casamento. Talvez seja uma manobra hormonal estrategicamente realizada pelo corpo. Talvez nossos hormônios são favoráveis as suas manias só para que nos casemos e nos acasalemos e as taxas desse hormônio caem após o casamento, uma vez que a união já está garantida. Vai saber...


O fato é que a tal primeira semana do casamento que dizem ser tão romântica foi um pandemônio. Simplesmente tudo no meu marido me irritava, e o interessante é que esse “tudo” era exatamente o mesmo “tudo” que eu mais amava no meu noivo. Era assustador como um detalhe tão pequeno como a escova de dentes de cabeça para baixo podia abafar um amor tão lindo e estragar um dia inteiro de bom humor.

E por um tempo eu achei que tivesse alguma coisa errada...que talvez nós não tínhamos sido feitos um para o outro.

Até que desabafei com uma amiga casada, apesar de não gostar da ideia de escancarar as minhas fragilidades conjugais. (E isso me fez entender um pouco deste complô entre as casadas de não avisarem para as noivas iludidas o que é o casamento). Para a minha surpresa, ela tinha passado exatamente pela mesma crise pós nupcial. Justo ela e o marido, que pareciam estar em lua de mel mesmo depois de um ano debaixo do mesmo teto, também tinham brigas constantes por causa da roupa jogada no chão e pelo fato dele dormir por cima do edredom. Ou seja, brigas fazem parte do cotidiano e nem por isso as pessoas deixam de se amar. (Engraçado... parece que alguém já havia me dito isso antes. Talvez eu que não tenha captado a mensagem direito).

Na terceira semana de casada meu marido teve que viajar a trabalho e eu achei uma delícia poder colocar ordem na casa à minha maneira. A primeira coisa que fiz assim que ele atravessou a porta foi recolher todas as pilhas de livros distribuídas pela casa e enxotá-las todas no seu armário. Enquanto ia de um lado para o outro fazia questão de pisar nos tapetes com meu tênis sujo de cidade e cantava um rap bem atual e anti-eighties.

Surprise, surprise. No dia seguinte acordei sentindo um vazio enorme sem aquela música de elevador. Arrastei-me até a sala e liguei o som. Quase cai dura com o volume alto que eu deixara do dia anterior e com a música bate estaca que tocava. Mudei a estação da Jovem-Pan para a ALPHA FM, onde tocava uma música do George Benson. “Bem melhor”, suspirei aliviada. Olhei para o apartamento ao meu redor e estava tudo irritantemente em seu lugar. Tive vontade de buscar os livros de dentro do armário e espalhá-los pela casa novamente. Sentei no sofá e fiquei olhando para o nada... sentindo a falta do meu marido me dando um beijo de bom dia com sua barba por fazer. Fui ao banheiro e enquanto esvaziava a bexiga estiquei a perna e encostei cautelosamente as pontas dos pés no tapetinho do banheiro e desejei profundamente que meu marido saísse aos berros de dentro do box dizendo que eu era uma porca.

Entendi uma série de clichês como “ninguém é perfeito”, “amo você do jeito que você é” e “não consigo viver sem você”.

Percebi que nossas brigas faziam tanta falta quanto seu cheiro, seus livros, suas músicas. Afinal, todos esses detalhes juntos resultam nele.

E eu o amo.




sexta-feira, 24 de abril de 2009

A vergonha do amadurecer

Quantas poesias já li sobre a beleza do desabrochar do ser humano, sobre as valiosas metamorfoses da vida. De fato, amadurecer é um fenômeno maravilhoso… nos versos dos poetas. Na minha humilde jornada, amadurecer tem sido um tanto vergonhoso.


Amadurecer é exaustivo. Não porque requer uma certa dose de sofrimento. Não… essa é a parte legal. Difícil é lidar com o fato de que um dia você não sabia de certa coisa que, de uma hora para outra, passa a fazer sentido para você. Ter a consciência do não-amadurecimento anterior é terrivelmente vergonhoso.


É como quando estamos andando na rua e passa um grupo de adolescentes histéricas rindo numa altura que te faz desconfiar se elas não escondem mini-megafones no meio dos aparelhos dentários. Elas só não conseguem ser mais perturbadoras do que a infeliz certeza de que um dia você também já foi uma delas. Ah… que vergonha!


Outro dia fui à re-inauguração de uma livraria e estava lá, toda adulta com meus óculos de grau lendo uma orelha de livro aqui, uma contracapa acolá… quando comecei a sentir uma leve coceira na garganta. Pelo visto eles também haviam trocado o sistema de ar condicionado que sopravam com entusiasmo milhares de micro cubos de gelo invisíveis e cortantes por todo o salão. A coceirinha virou logo uma coceirona, e para me poupar de ter que dar uma tossidinha a cada um minuto, juntei todas as minhas forças e dei uma daquelas tosses profissionais, que vêm lá do dedão do pé e explodem pela boca afora fazendo estremecer cada célula do seu corpo. Que alívio… momentâneo. Mal pude aproveitar minha garganta limpa (agora, de fato, irritada) e já senti o peso dos milhares olhares acusadores de mães que enfiavam o nariz dos seus filhos nos panos de suas calças. Neste momento consegui enxergar, assim como aquelas mães enxergavam, todos os micróbios que eu deixei dançando no ar. Obviamente se minha filha estivesse ali eu mesma repudiaria um sujeito como eu mesma. Quanta vergonha!


E o amadurecimento não pára. Logo na minha primeira semana de casada eu estava lá, lavando a louça de cada dia, sentindo os efeitos colaterais da vida doméstica, todos fazendo uma reunião na minha região lombar. Sentei, ou melhor, desmontei no sofá e fiquei pensando que depois de ter ido à feira, lavado os legumes, fatiá-los, cozinhá-los e servi-los, seria no mínimo justo ficar livre da louça suja. Pronto. Neste mesmo momento eu amadureci. Em um segundo eu pude enxergar todas as toneladas de refeições que minha mãe já preparou para mim com tanto carinho e, ainda pior, enxerguei todas as outras toneladas de vezes que eu não lavei a louça para poupá-la ao menos do trabalho final. Eu, com toda a minha dondoquice, achava que cruzar os talheres e levar o prato até a pia já era mais do que se podia esperar de uma filha dedicada. Meu Deus! Que vergonha!


E quem nunca ouviu aquela clássica ameaça: “espere só até você ter seus próprios filhos”? Essa é tiro e queda. A criança mal sai do seu útero e já começa a acertar as contas. De repente a gente percebe, através da alegria acridoce da maternidade (quem tem filhos sabe do que estou falando – e aqui fica meu comentário de experiente para firmar minha superioridade sobre os não amadurecidos) de como fizemos nossas mães sofrerem. E não, isso não é legal. O gosto que dá na boca ao pensar em todos os perigos do mundo e lembrar de todas as vezes que desligamos o celular para nossas mães não nos acharem não é apenas esclarecedor. É vergonhoso.


Perceber o próprio amadurecimento não é, nem de longe, a sensação de abrir lindas asas coloridas e metamorfomizadas depois de anos num casulo. No caso dessa metáfora, eu cataria o casulo do chão e enfiaria na cabeça. Ou mudando de animal, dá vontade de colocar o rabo entre as pernas, ligar pra mãe e dizer que agora que você é um adulto amadurecido você se arrepende de ter ficado tão doente quando era bebê, de ter mentido sobre o banho não tomado, de ter bebido demais, de ter se apaixonado pelo pior sujeito do colégio (daqueles que usam gorro mesmo no calor de 40 graus), e, oh céus, de não ter sequer lavado as louças do almoço de domingo (desculpa mãe!).


Enquanto estou aqui escrevendo o tempo vai passando e com certeza acordarei amanhã irritadamente mais amadurecida que hoje. Já não consigo olhar as pessoas nos olhos… talvez seja por isso que os velhinhos acabam ficando corcundas.





terça-feira, 21 de abril de 2009

Passar o dia passando

Ontem tirei o dia para passar roupas.
Não dava mais pra adiar. Já há alguns dias eu vinha notando que meu marido ia um pouco desleixado para o trabalho, de camiseta de algodão em vez das camisas sociais de sempre. Imagino que por temer a minha reação ele preferiu se virar com o que tinha no armário a reclamar qualquer coisa comigo. Garoto esperto.
Mas o que me fez tomar essa atitude mesmo foi quando a poltrona onde ficam as roupas recém tiradas da máquina excedeu seu limite e tive que começar a usar o nosso único sofá. Uma vez inutilizado, passei para as cadeiras da mesa de jantar.
Eu nem estava achando ruim de ter que usar minhas roupas antigas, aquelas que ficam no armário uma eternidade até a gente acordar com o espírito de usá-las. O que me fez resolver tirar o dia para passar roupa foi mesmo a falta de lugar para sentar. Essa história de comer na cozinha ou no quarto não estava muito legal.
Pois bem. Peguei meu ferro lilás com base antiaderente super deslizante, montei a mesa no meio da sala (mais perto do sofá onde estavam as roupas), liguei a televisão e comecei.

O ferro, presente da minha amiga Kerol, é mesmo uma beleza. Seus dezenove furos de saída de vapor me faziam sentir em um clipe musical dos anos oitenta: eu executava minha coreografia de pra lá e pra cá enquanto aquela fumaça subia a minha volta. Um arraso!

Tanto é que depois de duas horas quem estava arrasada era eu. Transpirava como eu não transpiro nem depois de duas horas de caminhada. Dor nas costas. Dor no braço. Dor de cabeça. Dor nos pés. Dor nos joelhos.

Coincidentemente, a tevê mostrava aqueles programas em que pessoas entendidas do assunto revelam segredos da moda para pessoas que não sabem se vestir. (Vocês vão entender a coincidência jajá). Dão cinco mil dólares para a pessoa renovar o guarda roupas seguindo as instruções dadas para se tornar alguém elegante. É uma delícia ver as transformações e as dicas que a princípio parecem sutis acabam fazendo uma diferença monstruosa no fim das contas (ok, talvez não deveria ter usado a palavra MONSTRuOsa para falar de algo bonito, mas vocês entenderam onde eu queria chegar).

Bom, depois de quatro horas ininterruptas de passação de roupa (passei as roupas e a tarde também) sou eu quem tem algumas considerações a respeito de que tipo de roupa se deve usar hoje em dia.

Primeira consideração: chega de calça jeans! Não é possível que uma sociedade que se transforma tão rapidamente teime em conservar uma moda que começou no século passado. Levis Strauss já teve o sucesso merecido, agora chega. Duvido que você use aquela legging de laycra brilhosa de 1985. Porque diabos quer usar uma lona desbotada que era moda desde antes de você nascer? Evolua!

Segunda consideração: é estritamente proibido o uso de bolsos, seja em calças (nem preciso mencionar as jeans), camisas, saias ou vestidos. Me responda uma coisa: pra que é que existe bolsa? Sim, muito bem, para guardar coisas. É tão gostoso comprar bolsas e variá-las, elas dão um toque importantíssimo para o nosso look. Você definitivamente não precisa de mini compartimentos pela roupa para guardar mais coisa, muito menos nessa estação onde as bolsas gigantescas estão na moda.

Quem usa calça ou bermuda cargo deve pagar multa e ainda passar quinze dias na prisão. Bolsos laterais (com preguinhas e alojados bem no meio da costura da perna) é invenção de louco e só funciona para soldado em missão nas fronteiras com o estrangeiro da floresta Amazônica. Eles não precisam estar passados, mesmo porque aquela estampa camuflada disfarça bem as rugas da roupa. Mas isso é pra eles, para nós, NÃO.

Terceira consideração: está abolido a partir de hoje o uso de roupas com pregas. Depois de muito complicar hoje o que é “in” é CLEAN, você nunca ouviu falar? Cllllllean, limpo, simples, chapado... sem fru-fru. Prega vale pra kilt de lã (saia escocesa) que dispensa o uso do ferro de tão grossa que é. Mas prega em cetim e afins estão a-bo-li-das. Nem aquelas duas pregas atrás da camisa masculina na costura do ombro podem mais. Nunca entendi porque elas existem... O que pretendem realçar?

Quarta consideração: dane-se o CC - Poliéster é MARA!


sexta-feira, 17 de abril de 2009

Bendito regime de cada segunda

Oi amigas!
Tudo bem com vocês? Comigo está tudo maravilhosamente ótimo! Antes de dizer porque, tenho que contar algumas coisas que antecederam este meu momento de alegria.

Logo no primeiro dia de casada eu fui para a cozinha determinada a fazer algo realmente delicioso. Não aquelas misturas que eu fazia antes, de arroz com requeijão e ketchup no microondas (que eram deliciosas, mas não era o tipo de coisa que se oferece aos outros, muito menos a um marido maravilhoso). Queria fazer comida de verdade, com temperos e tudo mais. Para a minha surpresa, eu não queimei nada. Nada explodiu. Nada quebrou. E não só não tivemos dor de barriga como adoramos o meu prato. (Para quem ficou curioso, era um suflê de legumes com almôndegas de soja ao molho madeira! Ok... o molho madeira era enlatado, mas o suflê foi inteiramente mérito meu). E maior surpresa ainda foi ver que meus dotes culinários mantiveram-se benignos durante a semana toda, e a seguinte, e também nas outras que vieram. Acredito que estava economizando o meu talento durante toda a minha vida e de repente o deixei aflorar.

Isso tudo me deixou muito orgulhosa. Até cogitei montar um álbum com as fotos das minhas criações. Cadastrei-me no www.tudogostoso.com.br, onde sou integrante assídua.

O que eu não percebi, graças aos olhos cegos de amor do meu marido (e também pela ausência de espelhos com mais de 50 cm em minha casa), foi que estava ganhando também alguns kilinhos. “Alguns” que se tornaram “um monte” quando resolvi entrar em uma farmácia e subir em uma balança. QUATRO KILOS EM UM MÊS! Quando vi os ponteiros da balança pararem no SETENTA E DOIS minha pressão caiu. A vista ficou preta, voltou. Então desci e subi de novo, mas ainda eram tristes 72 kilos.

Depois de se pesar 90 kilos durante uma gravidez e tomar venenos para voltar ao meu peso normal, jurei para todos os santos que só chegaria aos 70 em uma segunda gravidez. E de repente, sem mais nem menos (talvez um pouco de “mais” do que de “menos”), estava eu lá, nos 72.

E DOIS!

Foi então que minha querida mãe, muito piedosa, deu-me de presente um mês de Vigilantes do Peso, aquele programa internacional de reeducação alimentar em que a gente freqüenta reuniões e segue um cardápio e fica neurótica contando quantos pontos equivale cada gota de água que ingerimos.

A reunião era numa quinta-feira. Entrei timidamente na sala de uma escola onde tinha dezenas de gordas queimando calorias através da fala excessiva. Senti que muitas me olharam com desprezo, talvez me achando magra demais para estar ali as humilhando. Mas eu me sentia a mais gorda de todas, e eu juro pra vocês que nunca tive nenhum talento para anorexa. Eu estava gorda de verdade! Minhas roupas não serviam, a parte interna das minhas coxas já estavam empelotadas e meus calcanhares já ficando revoltados de ter que agüentar tanto peso. Na ocasião eu estava usando uma camiseta Hering XG do meu marido, que é no mínimo 20 centímetros mais alto que eu.

A reunião foi como eu esperava... uma salva de palmas para as pessoas que emagreceram e aquele discurso de que você pode ter o controle da situação.
Cheguei em casa um tanto desanimada... afinal, ninguém me passou nenhuma fórmula mágica, nem receitou algum veneno. Agora era comigo e isso significava um esforço enorme da minha parte, talvez maior do que pudesse oferecer.

O fim de semana chegou e fomos passear na Liberdade. Pensei que não haveria problemas... comida oriental é cheio de bambu, cenoura... nada muito calórico. O perigo foi estar acompanhada do meu marido (adoro repetir isso, “meu marido”) que tem o poder de ler o meu estômago. Sabe quando você está com uma leve fominha, abre a geladeira procurando alguma coisa que valha a pena... mas não consegue adivinhar o que é? Nessas horas ele chega e fala: que tal isso e isso com aquilo? No mesmo instante suas glândulas salivares entram em atividade e o estômago diz todo satisfeito: rrrrrrrroooooooooaaaaaaaaarrrrrrrr!

A sugestão do dia foi frango empanado ao molho de suco de laranja com açúcar e gergelim. Mmmm... maravilhoso! Ainda mais porque a porção não era individual como havíamos imaginado. O prato durou até o domingo. Já deixei até o garfo junto do isopor para poder dar uma garfada toda vez que abrisse a geladeira, gelado mesmo. Como o meu franguinho ao molho de laranja não constava no cardápio do Vigilantes, resolvi deixar para começar o programa no dia oficial do regime, segunda-feira. Aproveitei para me despedir das outras coisas que eu amo, como o Moca com chantili do Starbucks e o Top Sundae do McDonald’s (com aquela farofinha de paçoca por cima que esfolia o céu da boca).

A segunda chegou e entrei em desespero. Eu tinha apenas 3 dias completos para emagrecer alguma coisa, ou então passaria a maior vergonha do mundo na segunda reunião do Vigilantes. Receberia uma vaia das minhas colegas gordinhas, seria horrível.

Fui ao supermercado e comprei tudo o que era preciso: pão integral, queijo cottage, leite desnatado, alpiste, grama, vento enlatado... Depois fui ao sacolão e voltei a pé com as mãos gangrenadas pelo tanto de sacola que amontoava nos punhos prendendo toda a minha circulação.

Nos três dias que se passaram segui estritamente todo o cardápio. Fiz o sopão de legumes, tomei todos os copos de água... Aliás, tomei o triplo de água indicado para ver se com a barriga cheia (de água) eu conseguia enganar meu cérebro e minha vontade de mais comida. Contei todos os pontos corretamente, sem me enganar de que uma xícara é a mesma coisa que um copo grande, e quase morri de culpa quando comi 3 M&M da minha filha. Um amarelo e dois verdes. Até meu marido, coitado, entrou na brincadeira. Ia ser impossível comer um prato a la mata atlântica enquanto ele comia uma lasanha ou coisa assim. Acordei durantes as noites com o barulho do meu estômago mas fui forte.

Então chegou quinta-feira, hoje. Acordei apreensiva. Tomei menos água, que é pra não fazer muito peso na hora da balança. Fui roendo as unhas (sem engolir as lascas, é claro. Quantos pontos será que tem uma ponta de unha?) e não pude esconder minha tensão quando cheguei na reunião. Já fui logo me justificando. “Sabe, é que eu só pude começar o regime na segunda... e eu não tenho feito atividades físicas...”

Ah! Esqueci de contar dos abdominais que fiz na sala enquanto minha filha olhava pra mim com desprezo pensando que a mãe havia enlouquecido.

Mas bem, estava eu lá na balança, tentando esvaziar meus pulmões ou fazer levitar meu cabelo para diminuir os gramas... quando percebo um sorriso da minha orientadora. “Parabéns”, ela disse. Ainda aterrorizada pensei que suas próximas palavras seriam algo como “300 gramas é um ótimo começo. O importante é emagrecer aos poucos...bla bla bla”. Foi então que ela disse: “Sessenta e nove e oitocentos!”. Não era possível!!! DOIS KILOS E DUZENTOS GRAMAS EM TRÊS DIAS E MEIO! Isso era praticamente uma mágica (lógico que nessa hora eu me esqueci de toda a fome que passei). Então andei até a minha cadeira, ou melhor, flutuei até a minha cadeira e sentei para assistir a palestra com um sorriso arreganhado no rosto. Dessa vez bati palmas com entusiasmo para as minhas colegas e voltei para casa cheia de vontade. Vontade de viajar, de arrumar um emprego, de abraçar meu marido, de comprar roupas novas, de cantar, de fazer uma escova, de dar risadas.

Comigo está tudo maravilhosamente ótimo!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Verdades e Mentiras

É impressionante como as coisas mudam quando a gente as sente na própria pele. Se existe uma lição que já está muito bem aprendida é a de que não se deve, nunca e jamais, julgar ninguém.


Na terceira série eu tinha um colega gordo e enorme que vivia suado e fazendo ranger a cadeira para tirar minha atenção. Um dia, durante a aula, eu perdi meu pensamento em toda aquela massa lustrosa que era seu corpo e fiquei medindo quão repugnante ele era. Quase tive uma ânsia de vômito quando vi que no seu joelho fofo e redondo tinha uma verruga branca e gorda, assim como ele. Como diria minha avó, a vingança veio a galope. Uma semana depois da descoberta apareceu, do dia para noite, uma verruga branca e gorda no meu joelho magro. Eu entrei em desespero quando a percebi e só parei de berrar quando estava em um consultório dermatológico queimando a maldita. Isso não bastou para acabar com a verruga (que algumas pessoas chamam de BÊ-ruga)... fiz vários tratamentos e simpatias para aniquilá-la e até hoje tenho uma cicatriz no joelho que me serve para lembrar da lição: cuidado com seus pensamentos!


Na época de faculdade havia uma menina por quem todos os meninos do campus inteiro eram apaixonados. Ela não era bonita, principalmente vista de perto porque tinha um nariz meio masculino e dentes sutilmente separados. De longe podia até ser.


Praticava ballet desde o útero materno o que lhe rendera panturrilhas, coxas e bumbum musculosos, apesar de magra. (Era daquele tipo magra de nascença que adora dizer que é viciada em chocolate só pra te fazer sentir uma desgraçada por não ter os genes dela). Era elegante e tinha um cabelo castanho enorme que ela usava para enfeitiçar os colegas enquanto arquitetava os fios num coque durante a aula.


Fazia o tipo descolada, tinha um monte de tatuagens esotéricas, fumava horrores e morava sozinha com o filho de seis anos, um hippie mirim. Já que falar mal do pé de bailarina dela era pouco demais, eu vivia criticando-a pelo fato de ser mãe solteira. Ela devia ser uma daquelas maconheiras que acha que vai salvar o mundo “espalhando o amor” por aí, ou seja, engravidando de qualquer um e achando isso super natural. Irritava-me a admiração que os meninos tinham por ela. Eles deviam odiá-la por ser tão vulgar. Quem é que deixa um filho em casa e sai pra paquerar na faculdade usando um saiote e fumando como uma condenada senão a pior mulher do mundo?


Pausa para momento de reflexão súbito:

Só agora percebo que esses pensamentos podem ter chamado a atenção de Deus e que, por causa deles, Ele tenha resolvido me dar uma lição. (Cuidado com seus pensamentos!)


Eu não era maconheira, nem descolada, nem meu lema era “All you need is Love”, apesar de ser fã dos Beatles. Eu não concordava com a poligamia, até “ficar” me soava estranho apesar de pertencer a sua geração. Era tímida. Eu era uma sonhadora em busca do príncipe encantado, era inteligente e esclarecida. Ainda assim, engravidei.


Todas as minhas experiências me fizeram repensar as críticas à bailarina hippie. Filiei-me ao seu fã clube nutrindo admirações muito mais profundas por ela. Notei que praticamente todas suas tatuagens tinham a ver com o filho, um menino lindo que gostava de ser bicho-grilinho só porque admirava a mãe a ponto de querer se parecer com ela. Entendi que ter um corpão depois de uma gravidez é motivo de muito orgulho e ela tinha toda a razão em usar os tops com barriga de fora na faculdade. E que vitoriosa era ela em acreditar no amor depois de ser abandonada por um idiota pra quem ela tinha se entregado de corpo e alma.


A cada dia eu vivo situações que me fazem enxergar pessoas por outro ângulo. Cheguei a tal ponto que não julgo ninguém e tenho quase nenhuma opinião formada a respeito das coisas.




terça-feira, 14 de abril de 2009

Notícias pós-lua-de-mel


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Olá minhas amigas queridas. Como vão vocês? Por aqui vai tudo ótimo. Estou curtindo bastante a minha vida de recém casada. Resolvi dar um “break” enquanto as roupas delicadas (antipatiiiia) que devem ser lavadas a mão estão de molho para vir escrever pra vocês e contar um pouco da minha vida no último mês.

Depois de ter me acostumado com o ritmo de trabalhar fora, resolvi que tinha que ser útil em casa para compensar o dinheiro que eu não ganho. Gastei toda a minha energia nas duas primeiras semanas limpando este apartamento. Eu sei que metade de vocês não vai acreditar, com certeza minha mãe não vai, mas eu estava obcecada por limpeza. Escalava as janelas para limpar as frestas, passava aspirador de pó nos minúsculos vãos entre os tacos antigos (devo ter tirado poeira do século passado que estava ali), quase entrava dentro dos ralos pra ter certeza de que todos os fios de cabelo tinham saído de lá. É claro que no fim do dia eu estava exausta e frustrada porque além de não ter limpado tudo o que tinha para ser limpo (SEMPRE há um cantinho que a gente esquece. No dia seguinte à faxina geral você encontra uma teia de aranha atrás da TV e ela olha pra você e diz: “há! Você não me acho-ou, eu ganhe-ei!), eu estava descabelada, suada e exalando um perfume de Veja com querosene.

É claro que isso rendeu algumas brigas de casal, como no dia em que meu marido muito calmamente foi cortar as unhas do pé com o seu delicado Trim no meio da sala que já havia sido varrida-aspirada-espanada.

Então resolvi mudar de postura (ainda estou escolhendo que tipo de esposa eu vou ser) e não me importar tanto com limpeza. Percebi que estava sendo um pouco neurótica depois de definir uma linha na cama de casal porque meu marido dormia com todos os germes da cidade grande sem um banho no fim do dia. Desencanei total, fiquei “sussa”, como dizem os paulistas. Acordei um dia e
resolvi fazer minha unha, passear no shopping, assistir TV, ler meu livro...

(Pausa para falar do livro que estou lendo. Ele é ótimo, ótimo mesmo. A vida “tranqüila” que eu tenho levado me permitiu, no último MÊS, sair do início da página 48 para o meio da página 48).

Em dois dias a casa foi atingida por um furacão. Brinquedos, livros, sapatos por todos os lados. Copos então... nem se fala. Parecia aquela casa do filme “Sinais” em que a menina tinha mania de beber água e espalhava copos por todo o canto. Pelo menos se formos atacados por alienígenas estaremos salvos, pensei.
Suuuuussa, sussa eu vi que não dá pra ficar. Então resolvi... bom, não resolvi nada por enquanto. Esse dia que estou narrando é o dia de hoje. Depois desse e-mail vou ter que dar um jeito na bagunça.

Bom, tirando as questões de limpeza... tem a nossa filha, princesa máster. Só agora eu estou percebendo quanta ajuda tinha antes de casar. Agora não tem mais que faça um mamá nem ocasionalmente, sou eu quem tem que preparar todas as refeições, fazê-la engolir as refeições e depois escovar seus dentes. Sou eu quem tem que levá-la e buscá-la na escola (essa hora é sempre uma loucura. Não importa o que eu esteja fazendo eu tenho que largar tudo e ir tomar uma ducha, maquiar e colocar uma roupa decente. As outras mães são chiquerérrimas... tenho que ir apresentável para a escola). Sou eu que dou todos os banhos, lavo todas as roupas... inclusive os uniformes que tem que ser lavados à mão diariamente. Sou eu quem lê as histórias antes de dormir, arrumo os brinquedos, tiro a poeira do quarto... (Travei guerra contra o mofo do armário dela. A cada dois dias eu entro naquele quarto com uma fralda amarrada no nariz e segurando um balde com vinagre e álcool, aspirados e secador de cabelo para mais uma batalha. Maldito mofo!). Fazer todas essas coisas de mãe cansa também, mas ao contrário dos outros trabalhos domésticos, esse me faz sentir bem. É como quando a gente vai fazer uma escova e sai do salão com o ego lá em cima, feliz e confiante na nossa feminilidade. Quando acabo com a minha mão lavando o uniforme manchado de tinta me sinto uma super mãe, e eu adoro me sentir assim.

Entrando na feminilidade... eu e meu marido vamos muito bem, obrigado. É incrível como o casamento muda a relação entre duas pessoas. Eu e ele subimos uns trinta degraus na nossa relação depois do casamento. O nosso amadurecimento é constante e visível. É como aqueles grãos de feijão no algodão que são filmados ininterruptamente por uma semana e depois passam na televisão com uma velocidade 20 vezes maior e em segundo a gente vê o grão germinar, crescer, dar folhas... Dá pra sentir a gente crescendo juntos e isso é maravilhoso.

Depois de crises de exaustão, revoltas, empolgações, acho que estou finalmente me adaptando. Não estou neurótica nem irresponsável. E tenho, sim, curtido ficar em casa e poder assessorar a minha filha o tempo todo. Nunca imaginei que seria assim, mas cuidar do lar é até bem legal. Meus vídeos favoritos no Youtube são “dicas para passar camisa social” e “como tirar manchas de desodorante das roupas”. Descobri que o Youtube é um ótimo conselheiro depois de ter usado toda a linguagem chula que eu não usei durante a minha vida tentando dobrar um lençol com elástico. Digitei desesperadamente no Google “como dobrar lençol com elástico” e lá apareceu um link para o queridíssimo Youtube. Desde então ele tem sido minha comadre, trocamos todo o tipo de idéia e eu nunca mais me desesperei frente a um desafio doméstico.

Bom...o tempo está passando e é melhor eu recolher os copos antes que minha casa seja foco de dengue. Só tenho que achar meu avental verde com bico de crochê que minha vó me deu. Ele é a coisa mais prática que eu ganhei porque além de proteger minhas roupas e ser um ótimo pano de prato para emergências, ele disfarça a barriga.


segunda-feira, 13 de abril de 2009

Uma breve introdução



Ser mãe solteira aos 21 anos de idade não é coisa fácil. Aos 21 ainda somos inseguras e nos preocupamos excessivamente com a opinião alheia. Pelo menos eu me preocupava. Ainda nem estava acostumada com a idéia de que tinha uma vida sexual e era um tanto constrangedor desfilar com a minha cara de menina e minha barriga de grávida. Era como escrever na testa para todo mundo ver: “eu fiz sexo”.
Isso causava um grande espanto nas pessoas porque apesar da minha maioridade eu parecia ter uns 17 anos. Sem contar os tênis e calças jeans, meus itens preferidos no guarda roupas.
Ou talvez as pessoas nem percebessem... mas eu percebia a minha imaturidade.

Eu que nunca quisera namorar (sempre estive em paz com minha solteirice) fiquei obcecada por casamento. Não que eu quisesse casar. Apesar de mal ter iniciado a minha sexualidade já estava disposta a encerrá-la por ali. Naquela época eu só não me candidatei em um convento porque imaginei que não aceitariam uma aspirante à freira com um filho a tiracolo.


Eu simplesmente passei a reparar em como uma sociedade que se diz moderna ainda prezava coisas tão antiquadas como o casamento.


Uma propaganda de seguro de vida mostrava uma barriga de uns oito meses e uma mão acariciando-a enquanto um narrador falava qualquer coisa sobre cuidar das pessoas que amamos. A cabeça da dona da barriga não aparecia, nem nenhuma roupa, nenhum cenário... apenas uma reluzente aliança servia de figurino para modelo. Até na embalagem do adoçante tinha (ainda tem!) o retrato de um casal tomando café da manhã com seus pijamas cheirosos e duas alianças grossas o suficiente para serem notadas.

Eu via o olhar das pessoas desviarem da minha barriga enorme e redonda direto para a minha mão esquerda e depois, numa última hipótese esperançosa, para a minha mão direita. O mundo todo parecia me cobrar um pai para a minha barriga.


Ou, pensando de trás pra frente (ou de frente pra trás), talvez fosse apenas a minha imaginação e eu que na verdade fosse antiquada e sofria por não exibir aliança nenhuma em meu dedo.

Justo eu que achava a coisa mais cafona do mundo usar aliança de compromisso quando se é namorado, comecei a virar meu único anel de ouro de modo que o design de coração ficasse escondido na palma da minha mão. Aquele pequeno risco dourado em meu dedo me fazia sentir tão mais segura e pronta pra enfrentar todo o mundo.


Mas cá com meus botões eu sabia que aquele casamento era entre mim e minha filha apenas. Foram nove meses de noivado até que nos casamos no dia do seu nascimento. Um casamento que já dura quatro anos e que com certeza será eterno.


Depois que ela nasceu, logo depois mesmo, tipo no dia seguinte, eu já estava um bocado mais madura. Esqueci dessa história de aliança, apesar de sentir uma pontada no coração toda vez que via um pai babão na maternidade. De qualquer forma acho que mesmo que ele existisse um pai não caberia no nosso apartamento no hospital pois ele estava abarrotado de amor. O meu amor pela minha filha jorrava sem parar por toda parte, afogando tudo a nossa volta e suprindo toda e qualquer falta.


Eu não sentia mais falta de nada porque o que era mais importante eu conseguia carregar nos braços.


Mas a vida é aquela velha amiga sacana... que adora pregar uma peça na gente. Justo naquele sábado à noite em que você está disposta a ficar sossegada em casa ela vem toda animada e não te larga o pé enquanto você não topar sair e dar uma volta com ela. E em nome da velha amizade você acaba se rendendo e sai, mas com a certeza de que vai acabar se metendo em encrenca. A vida sempre arruma encrenca.

Dito e feito. A encrenqueira me arrumou um novo amor. Eu que já era uma obesa mórbida de tanto amor materno que existia dentro de mim tive que fazer meu coração crescer ainda mais para cultivar um amor de mulher por um homem.

Quando eu nem queria mais, ganhei uma aliança de verdade e sem nem perceber ela saiu da mão direita e foi morar na esquerda. Agora eu tenho uma família típica de propaganda de seguro e de embalagem de adoçante.