sexta-feira, 24 de julho de 2009

Neverland

Era uma vez um reino onde as pessoas cismavam em nunca serem felizes. Elas viviam reclamando de tudo e nunca, nunquinha sorriam.

Certo dia um menininho magrinho e pequeno, porque estava cansado de tanta tristeza, inventou um jeito novo de andar. Assim mesmo, do nada. Só porque não tinha nada para fazer. Um pessoal que passava por ali viu o menino deslizando com seus sapatinhos minúsculos e achou aquilo muita graça.

A notícia se espalhou e logo todo mundo do reino queria experimentar essa nova sensação de que andavam falando tanto, a tal da alegria. E sem nem perguntarem o que ele achava de tudo aquilo, consagraram o menininho dos sapatinhos deslizantes como o Rei do Reino Infeliz.

Colocaram nele uma coroa de gente grande tão, mas tão pesada que ele só conseguiu continuar a deslizar porque era realmente muito bom naquilo que fazia.

Os anos foram passando e o Reino Infeliz era cheio de risos e alegria, graças ao reizinho. Algumas pessoas foram envelhecendo, outras nascendo... e todos adoravam o seu Rei.

O reizinho, porém, era o único que não crescia: sua coroa era tão pesada, mas tão pesada que seu corpinho cansou de fazer força para crescer e resolveu ser para sempre criança.

Os moradores do reino, tão cheios de adultices, muitas vezes não entendiam porque o Rei agia do jeito que agia. Ele gostava dos animais, de brincar no rio, de comer algodão doce, de fazer travessuras, de correr com as outras crianças, e, é claro, de deslizar com seus sapatinhos.

Mas apesar de nunca ter ficado adulto, seu corpinho foi ficando velho e cansado, e a coroa começou a pesar ainda mais sobre sua cabecinha. O reizinho não conseguia mais correr, nem brincar e já doía muito quando as pessoas pediam para ele fazê-las felizes.

E as pessoas do reino cismavam nas ignorâncias. Fingiam não entender porque o Rei nunca tinha crescido. E também não se importavam com a fragilidade dele: elas queriam mais risos, mais alegria, custasse o que custasse. Portanto, nunca permitiram que o reizinho tirasse sua coroa.

E então o Reizinho dançou e dançou. Deslizou os seus sapatinhos com toda a força que lhe restava. E da mesma forma que as solas dos seus sapatinhos iam ficando gastas e desaparecendo, o reizinho também foi sumindo.
Primeiro foram-se os pezinhos... depois os joelhinhos... os ombrinhos... até ele sumir por completo.

De lembrança daquele reizinho, ficou só a coroa.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Perfeito amor imperfeito

Sabe quando dizem que "amar é aceitar os defeitos do outro"? Pois digo que essa é a mais pura verdade. E ainda acrescento: amar é aceitar os nossos próprios defeitos também.

Quando se está solteiro todo ser que passa pelo nosso campo de visão é um amor em potencial. Seja o menino que você viu no ônibus, o carinha da locadora ou um outro que você esbarrou no supermercado. É preciso estar sempre alerta, pois o amor da sua vida pode estar em qualquer lugar.

O coração acelera quando o contato passa a ser mais que uma troca de olhares. Vocês já conversam, vocês trocam telefones, vocês saem juntos, vocês estão tendo um caso. E a pergunta que não quer calar dá um berro: "será o pai dos meus filhos?"

E com a mesma atenção que você procura qualidades em um desconhecido para que ele seja o homem da sua vida, você começa a procurar os defeitos que o desqualifiquem de tal posto. "Ah... o amor da minha vida não pode gostar de rock se eu gosto de samba."

E assim a gente segue sempre sonhando com aquele homem perfeito. E fantasiamos cenas de uma relação ideal, onde não haja brigas nem desentendimentos. E o que não percebemos é que, quando criamos esse romance platônico, platonizamos também um novo "eu". O que eu quero dizer é que não é só um homem ideal que elaboramos em nossa cabeça. Criamos também uma nova mulher: linda, magra, segura, sempre bem humorada e tpm-free.

Então fica a dica. Antes de sair em busca do grande amor da sua vida tire a roupa e se ponha em frente a um espelho. Veja suas estrias e suas gordurinhas. Depois enxergue além delas. Descubra suas chatices, suas manias. E então vá ser feliz com um amor imperfeito.




quinta-feira, 16 de julho de 2009

Lisboníssima


A Europa é cheia de destinos românticos para casais apaixonados. As gôndolas de Veneza já presenciaram inúmeras declarações de amor, que dirá a Torre Eiffel. Nessas férias descobri um novo lugar para os amantes: Lisboa.

Depois de horas intermináveis em um avião, na ponta de uma Europa plural, você chega a um pais que, desculpem-me aqueles que insistem nas similaridades entre Portugal e Brasil, é singular.

Chega a ser entorpecedor andar naquelas ruas embutidas em história e saudades. Não é de se espantar que de lá tenham surgido poetas como Camões e Fernando Pessoa. Lisboa é um poema em forma de cidade, escrito com azulejos, pausado com praças, ritmado pelo Tejo.

E mesmo estando milhares de kilometros distante de casa, dentro de um país estrangeiro com uma trajetória tão diferente da nossa, é possível abrir a boca e se fazer compreendido.

Não é uma Lisboa que todas nós buscamos nos homens afinal? Um alguém onde possamos nos reconhecer apesar das tantas diferenças que existem entre um homem e uma mulher? Um alguém que nos compreenda, apesar das distâncias?