quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Amor-tecendo...

Acredito que uma das funções mais desgastantes da maternidade é a de amortecedor. Afinal, a vida não perdoa nem os pequenos e dá um trabalhão danado ficar amortecendo as pancadas destinadas aos nossos filhos.

Dia de vacinação, por exemplo, deixa-me exausta. Caminho sempre pro posto de saúde com aquele sorriso forçado, fingindo que aquilo é uma coisa legal. Logo em seguida vamos parar na primeira loja de brinquedos, que nada mais é que um caro analgésico para coração de mães em padecimento.

De tanto fingir que viajar de ônibus era uma coisa divertida, minha filha acabou convencida de vez. Enquanto eu respiro fundo e fecho os olhos para controlar o enjôo das curvas, ela vibra com a idéia de dormir numa semicama dentro de um ônibus “todinho dela”, de onde ela pode ficar olhando as estrelas pela janela, ou as nuvens.

E primeiro dia de aula então? Quanta animação a gente falsifica para esconder o medo e a insegurança da novidade?

Quanto mais a criança se deixa enganar e acredita nas nossas mentiras, mais lágrimas a gente tem que engolir. E o mais engraçado dessa história de ser amortecedor é que os pequenos, depois de convencidos dos nossos quase-sempre-falsos argumentos, acabam nos convencendo de volta de que a vida pode ser sempre bela, sim senhore positone. Fortes e sábias crianças, acabam elas sendo o nosso próprio amoretecedor.

Com a minha filha feliz vendo as estrelas pela janela do ônibus fica difícil eu ficar enjoada durante a viagem. 


5 comentários:

  1. Nossa Nina, nunca tinha pensado nisso dessa forma. Comparação incrível, post idem, daqueles que eu gostaria de ter escrito.
    beijos!

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  2. Quando pegava ônibus com minha filha brincávamos de adivinhar a cor do carro que o ônibus iria ultrapassar hehehe... é assim mesmo bancamos o amortecedor ;-)
    Beijão!

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  3. Parece aquela música do Roberto Carlos, "Traumas". "Meu pai tentou encher de fantasia/ e enfeitar as coisas que eu via..."

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  4. Que bonito isso, visto assim.
    Posso plagiar pra quando meu filho tiver idade de conseguir enxergar pela janela do ônibus?

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