quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O primeiro aniversário do Samuel


Um piscar de olhos e pronto, já havia se passado um ano. Sentei, enfim, diante do computador para selecionar as fotos para seu primeiro álbum, que desde a saída da maternidade pensava em montar. Tão absorvida pela vida imediata, não percebi que já acumulava na bagagem de tão curta vida uma imensidão de memórias.  É necessário diminuir os passos e olhar para trás, contemplar o caminho percorrido para se dar conta do vivido. Vejo, agora, quanta lembrança estes trezentos e sessenta e cinco rodopios planetários embalaram em nossas vidas.

Você, minha criação tão esboçada, acabou nascendo lótus em pântano de dor. Fraternamente, dividiu meu luto consigo em tardes tristes de outono. Aceitou minhas lágrimas com a cumplicidade de quem já compartilhou o mesmo corpo. Aninhou-se em meu seio como se pedisse proteção, enquanto, na verdade, alicerçava-me para a vida.

Penetrou minha alma pelos olhares graves que lançou e dos quais eu ousei não desviar.  Olhares desprovidos da curiosidade típica das crianças, embebidos de uma experiência misteriosa. Olhos do fiel profeta que transportam a palavra divina.

Sua expressão de homem maduro, quando pousada sobre nós, fez estremecer alguns e enfeitiçar outros.  Seu avô diz que se você andasse fardado, lhe bateriam continência.  Traços fortes que anunciam um grande homem, um super homem.

Diante de sua irmã, porém, a imponência masculina sucumbiu. Seu rosto emanou uma luz especial, uma doçura besta como a dos enamorados. Eu, feliz artesã, assisti o fiar deste meu manto amoroso, cuja tessitura prossegue apesar de mim.

Doze meses abrigaram uma miríade de riquezas cuja alquimia resultou no maior dos amores. Amor que me resgata da inércia da vida, que me alinha com os astros celestes, que faz minha existência romper os limites do meu corpo, que me sintoniza com Deus. Um piscar de olhos e me tornei assim, mais humana e mais sublime. Mais materna. Mais feliz. 

Foto: Gabriela Oliveira