“O que acontecia no mundo quando eu nasci?” Tinha aproveitado a brecha entre as visitas para começar a completar o seu álbum do bebê, uma vez que todas as mães foram categóricas em dizer que, sim, a gente esquece rápido. Mas, o que é mesmo que acontecia no mundo? Mundo... mundo... onde fica isso mesmo?
Desci da minha cama e fui até a janela do quarto. A vista do décimo sétimo andar me deixou com as pernas bambas. Não pela altura, mas pela imensidão que minha vista pôde alcançar. Depois de uma semana da sua vida confinadas naquele hospital tão branquinho, higienizado e silencioso, havia me esquecido do mundo lá fora. Barulhento. Sujo. Vi milhares de carros e pessoas indo de um lado para o outro, todos alheios a sua existência. Por um instante achei que devesse gritar, anunciar a sua chegada assim como Rafiki fez do alto da pedra do orgulho com o pequeno Rei Leão. Não o fiz, mas continuei certa de que se o mundo soubesse sobre você, todos se curvariam diante deste milagre maravilhoso, o maior de toda a minha vida.
Até que, já na escolinha, houve aquela festa do folclore. Você estava linda, de fantasia de fadinha verde e com uma estrelinha desenhada na bochecha. Eu, na platéia, não sabia se aplaudia ou tirava fotos. Resolvi tirar fotos. E foi no momento em que me aproximei do palco que descobri. Era óbvio e proporcionalmente cruel.
Vi dezenas de outros pais e mães, com suas máquinas fotográficas e seus olhos marejados de emoção. Apesar da dança em conjunto, pude acompanhar os olhos daquelas pessoas e percebi que exatamente todas elas assistiam a uma apresentação solo. Para cada um de nós, só existia uma estrela na festa: o próprio filho.
Saber disso me causou uma enorme tristeza.Como será que o mundo te trataria (ah, sim, o mundo) desprovidos do amor que eu sinto por você?
Sem ter essa resposta, passei a te amar em dobro, que é o que eu podia fazer. A página do álbum continua em branco. Não, nada mais importante acontecia no mundo no dia do seu nascimento.