Antes de termos nossos próprios filhos a gente adora brincar de estilingue: é pedra atirada para tudo quanto é lado. Aqueles pais mimam demais, esses se deixam manipular pela criança, aqueles isso, esses aquilo. Até que a gente põe no mundo um serzinho todo nosso e descobre que não existe coisa mais gostosa no universo do que mimar e fazer nossos filhos felizes.
Educar passa a ser algo bem mais difícil do que a gente imaginava. É tão mais gostoso falar “sim”, é tão bom fazer as vontades dos nossos pequenos... Diante da dificuldade em estabelecer limites os especialistas (geralmente pessoas que não tem filhos) dizem que é preciso preparar as crianças para a vida. Mas, ora, que coração de mãe gostaria de antecipar qualquer sofrimento ao próprio filho? Quem não quer ter o poder de postergar qualquer desilusão que a vida há de mostrar mais cedo ou mais tarde? Quem não tentará de todas as maneiras amortecer os sofrimentos inevitáveis?
Portanto digo: NÃO, não educarei para preparar minha filha pra a vida, de forma que quando as dificuldades cheguem ela já esteja calejada. Educarei, SIM, mas para auxiliá-la a se descobrir.
É na presença dos limites que desvendamos nossas vontades, nossos potenciais. O homem só inventou o avião porque não possuía asas. Se a nós fossem concebidos todos os gostos do mundo, seríamos apenas um caótico amálgama de possibilidades. Toda forma real tem suas linhas, seus contornos. Hoje eu ainda me descubro cada vez que esbarro em um desses traçados que me limitam. Sei até onde as margens da minha paciência vão, surpreendo-me ao não enxergar onde o meu amor de mãe alcança. Quando o mundo me impõe um limite eu descubro, insastisfeita, que preciso expandir meu volume. Entre fronteiras vou sabendo quem sou.
Visto assim o limite não é restrição, nem aprisionamento. Porque o limite de uma criança pode alcançar o infinito.