terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Canção para minha bonequinha


Bonequinha de louça
já parece até moça
cantarolando alegre
não há quem não a ouça.

Bonequinha de vidro
rodopia o vestido
dançando dengosa
mostra o bum-bum escondido.

Bonequinha de gesso
quebrou o brinquedo
chorando manhosa
guardou o segredo.

Bonequinha de ferro
da mamãe fica perto
quando ouve a moto
solta logo um berro.

Bonequinha de cristal
vive em alto astral
gargalhando irradia
alegria sem igual.

Bonequinha de plástico
calçou sozinha o sapato
mamãe disse que era pra festa
mas ela não ligou nem deu papo.

Bonequinha de pano
nunca comete engano
olha bem pra quem gosta
e diz "eu te amo".

Bonequinha de madeira
pede faceira
um mamá bem quentinho
pra dormir a noite inteira.

Bonequinha de couro
é espoleta, um estouro
por onde anda encanta
com seus cachos de ouro.

Bonequinha de barro
ocupa muito espaço
espalha todos brinquedos
e distribui abraços.

Bonequinha de papel
faz arte com o pincel
desenha na parede
e deixa a vovó pinel.

Bonequinha de cimento
não tem cabimento
meu amor por você
é sem vencimento.





 Texto escrito em abril de 2007, em Ouro Fino, Minas Gerais.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Em casa

Depois das duas primeiras horas é humanamente impossível manter a atenção em uma palestra. Um devaneio aqui e uma pescada acolá são naturais num auditório cheio em uma tarde quente de sábado. Entre uma palestra e outra a gente aproveita para mudar de lugar, molhar a garganta... estabelecendo diálogos curtos e superficiais na fila do café, na fila do banheiro, na porta do auditório. E não importa quão interessante seja a jornada, depois de sete horas o cansaço começa a incomodar, porque só ouvir também cansa demais. Então as cadeiras perto da porta dos fundos começam a ser mais disputadas. Sentada lá trás, entre uma idéia e outra, começo a me asfixiar pela quantidade de desconhecidos que me rodeiam. Observo aquelas dezenas de feições tão indiferentes à minha existência e alheias à minha história que eu mesma começo a esquecer quem sou. A gente se esquece um pouco ao não existir para o outro. De repente não lembro nem porque estou ali e começo a achar o português do palestrante um tanto quanto grego. Sem ensaiar a saída, levanto-me de supetão e corro em direção à porta. Saio sem olhar para trás. Corro em direção ao ônibus e apesar dos vários assentos vagos, permaneço em pé, tamborilando os dedos ansiosos na barra de ferro. Antes de completamente freado, salto do ônibus e opto pelas escadas, as quais subo com passos largos. Abro a porta e corro para os braços do meu marido. Olho pra ele e lembro que não estou sozinha, que no meu time jogam mais jogadores. Lembro dos meus sonhos, dos nossos planos, da nossa história. Sinto muito amor. Reconheço-me.






Lindo, obrigada por jogar no meu time. Juntos já somos vencedores e nem precisamos de torcida. Que este jogo da vida dure por toda uma eternidade, porque não há nada melhor que jogar ao seu lado. Feliz aniversário para gente!