quarta-feira, 15 de abril de 2009

Verdades e Mentiras

É impressionante como as coisas mudam quando a gente as sente na própria pele. Se existe uma lição que já está muito bem aprendida é a de que não se deve, nunca e jamais, julgar ninguém.


Na terceira série eu tinha um colega gordo e enorme que vivia suado e fazendo ranger a cadeira para tirar minha atenção. Um dia, durante a aula, eu perdi meu pensamento em toda aquela massa lustrosa que era seu corpo e fiquei medindo quão repugnante ele era. Quase tive uma ânsia de vômito quando vi que no seu joelho fofo e redondo tinha uma verruga branca e gorda, assim como ele. Como diria minha avó, a vingança veio a galope. Uma semana depois da descoberta apareceu, do dia para noite, uma verruga branca e gorda no meu joelho magro. Eu entrei em desespero quando a percebi e só parei de berrar quando estava em um consultório dermatológico queimando a maldita. Isso não bastou para acabar com a verruga (que algumas pessoas chamam de BÊ-ruga)... fiz vários tratamentos e simpatias para aniquilá-la e até hoje tenho uma cicatriz no joelho que me serve para lembrar da lição: cuidado com seus pensamentos!


Na época de faculdade havia uma menina por quem todos os meninos do campus inteiro eram apaixonados. Ela não era bonita, principalmente vista de perto porque tinha um nariz meio masculino e dentes sutilmente separados. De longe podia até ser.


Praticava ballet desde o útero materno o que lhe rendera panturrilhas, coxas e bumbum musculosos, apesar de magra. (Era daquele tipo magra de nascença que adora dizer que é viciada em chocolate só pra te fazer sentir uma desgraçada por não ter os genes dela). Era elegante e tinha um cabelo castanho enorme que ela usava para enfeitiçar os colegas enquanto arquitetava os fios num coque durante a aula.


Fazia o tipo descolada, tinha um monte de tatuagens esotéricas, fumava horrores e morava sozinha com o filho de seis anos, um hippie mirim. Já que falar mal do pé de bailarina dela era pouco demais, eu vivia criticando-a pelo fato de ser mãe solteira. Ela devia ser uma daquelas maconheiras que acha que vai salvar o mundo “espalhando o amor” por aí, ou seja, engravidando de qualquer um e achando isso super natural. Irritava-me a admiração que os meninos tinham por ela. Eles deviam odiá-la por ser tão vulgar. Quem é que deixa um filho em casa e sai pra paquerar na faculdade usando um saiote e fumando como uma condenada senão a pior mulher do mundo?


Pausa para momento de reflexão súbito:

Só agora percebo que esses pensamentos podem ter chamado a atenção de Deus e que, por causa deles, Ele tenha resolvido me dar uma lição. (Cuidado com seus pensamentos!)


Eu não era maconheira, nem descolada, nem meu lema era “All you need is Love”, apesar de ser fã dos Beatles. Eu não concordava com a poligamia, até “ficar” me soava estranho apesar de pertencer a sua geração. Era tímida. Eu era uma sonhadora em busca do príncipe encantado, era inteligente e esclarecida. Ainda assim, engravidei.


Todas as minhas experiências me fizeram repensar as críticas à bailarina hippie. Filiei-me ao seu fã clube nutrindo admirações muito mais profundas por ela. Notei que praticamente todas suas tatuagens tinham a ver com o filho, um menino lindo que gostava de ser bicho-grilinho só porque admirava a mãe a ponto de querer se parecer com ela. Entendi que ter um corpão depois de uma gravidez é motivo de muito orgulho e ela tinha toda a razão em usar os tops com barriga de fora na faculdade. E que vitoriosa era ela em acreditar no amor depois de ser abandonada por um idiota pra quem ela tinha se entregado de corpo e alma.


A cada dia eu vivo situações que me fazem enxergar pessoas por outro ângulo. Cheguei a tal ponto que não julgo ninguém e tenho quase nenhuma opinião formada a respeito das coisas.




3 comentários:

  1. Amiga, vou criar uma revista feminina só pra vc ser minha cronista semanal! YOU ROCK!!!!
    Beijos, Kerol

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  2. Maluca... fiquei curiosa por ter certeza de que a menina era a mesma que eu to pensando! auhauhauhauh arrasou! o pior eh que ela era liinda memso! E tem as mesmas iniciais minhas. acertei? bja... vc arrasa! todo dia eu abro pra ver que que tem de novo!

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  3. Olá, vc não me conhece e eu não te conheço, recebi por uma amiga o link do seu blog e resolvi dá uma olhada. Gostei muito desse texto e principalmente a msg q ele passa. Tenho 26 anos, já julguei muito, e graças a Deus Ele permitiu q eu passasse por diversas situações na qual julgava para q eu aprendesse q não sou dona da verdade e muito menos perfeita, e que as coisas muitas vezes não são como parecem, é totalmente diferente está de fora da situação e vivê-la. Cada ser humano é único, cada pessoa vive de forma diferente as mesmas situações, e como criaturas de Deus, cheio de limites e fraquezas não temos o direito de julgar. Amar é o maior mandamento, e mesmo q nos doa Deus sempre dá um jeitinho de nos ensinar.
    Que Deus te abençoe, e faça com q teus textos possam ser canal de Deus em muitas vidas.
    dianaclaudia@gmail.com

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