quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sô-lidariedade

Há quase um ano venho ensaiando um texto e, apesar dos meus esforços, das palavras que procuro encontro apenas alguns rumores. Geralmente tudo o que me toca, de uma forma ou de outra, vira texto. Seja uma postagem apaixonada no blog, uma carta saudosista ou um email de desabafo, toda emoção quase sempre fica registrada.

Dia 23 de dezembro de 2010 passei por uma dessas emoções avassaladoras, daquelas que são grandes demais e necessitam desesperadamente de serem diluídas em versos. A filha da minha grande amiga era diagnosticada com câncer. Sei que, para quem apenas lê estas linhas, a frase já é impactante o suficiente. Nenhuma criança no mundo deveria sofrer, nem por um joelho ralado, que dirá por uma doença tão terrível.  Ainda assim, gostaria de insistir que não é qualquer criança, nem qualquer amiga. 

Nossa amizade nasceu espontaneamente, num cruzar de ruas e de vidas. Nossos laços não parecem ter sido construídos ao longo do tempo, mas, sim, instantaneamente reconhecidos. A semelhança de nossas trajetórias garantiu-nos um bem querer gratuito, como se uma visse na outra um pouco de si. 

Obviamente todo o carinho foi transferido aos nossos filhos. Compartilhamos problemas familiares, escolares, brinquedos, comida, festas, febres e conquistas. Como poderia eu, ficar imune àquela notícia horrível? Não era apenas uma criança, era a criança tão querida e tão próxima de mim.
               
Desde então venho acompanhando a luta da pequena grande guerreira, que sequer desconfia da coragem que tem. Pude quebrar muitos mitos com relação ao câncer, apesar de acreditar que ele continua sendo um bicho de sete cabeças. Sofia vem tirando de letra, com seu amigo do peito e uma mãe-muralha ao lado. Se naquele primeiro momento o texto que arranhava minha garganta era cheio de amargura, depois foi aparecendo outro cheio de orgulho. Orgulho da pequena e da grande.
                 
Volta e meia aparece de novo a vontade de chorar as mágoas, mas que direito eu tenho? Que direito tenho de revelar o meu sofrimento quando ele é inútil e tão pequeno perto do sofrimento da minha amiga? Que direito tenho de dizer que compartilho a dor se não sou eu quem beija aquele rostinho todos os dias? E ainda, de que adiantaria drenar minhas tristezas para um texto quando o que se necessita é de conforto e otimismo?
                 
Resolvi, por tempo indeterminado, que não escreveria nada e que se dane se tanta emoção guardada me seja insuportável. Mas hoje achei um motivo para vir aqui e contar, mesmo que não contando, a história da minha amiguinha bailarina.  
                 
Durante o longo tratamento muitas e muitas transfusões foram necessárias.  A cada uma delas sempre vem o afago de um hemograma cheio de números e de duas bochechas rosadas. Mais do que para quem acompanha, é o corpinho dela que, a cada ml de sangue, se sente otimista na luta pela cura. 

Contudo, apesar dos maravilhosos recursos do hospital Albert Einstein, em São Paulo, falta sangue. E falta sangue porque faltam doadores.
                 
A consciência dessa falta é que me permitiu escrever essa emoção, a tanto tempo engasgada, porque agora, pela primeira vez, sinto que posso ser útil – pelo menos um pouco. Mesmo que não seja no Einstein, mesmo que não seja em São Paulo... existe alguém que precisa do seu sangue agora, neste instante. 

Doar sangue é fácil, é seguro, é rápido e, mais importante que tudo isso, é necessário.



(doações em nome de Sofia)

6 comentários:

  1. Aqui no Rio a situação tb está crítica!
    Fiz um mutirão semana passada, carreguei a família toda pro Hemorio... vamos divulgando q de pouquinho em pouquinho a gente chega lá!

    E forças, mta saúde pra Bailarina!

    Bjinhos Gabi!

    gabirosaflor.blogspot.com

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  2. Aqui em Bauru também faltam doadores. De sangue e de Leite materno.
    Estamos sempre fazendo alertas a população, pedindo consciência.

    adorei o post.

    bjoca

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  3. Nossa, que lindo o seu gesto. Fiquei realmente comovida.
    Muita forca pra você, pra sua amiga e para a Sofia.

    Beijo,
    Karen
    http://multiplicado-por-dois.blogspot.com/

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  4. Marina, é a primeira vez que passo por aqui e dou de cara com esse post. Precisamos de mais gente como vc, que tome a iniciativa de incentivar a doação, coisa que às vezes nós só damos conta da importância quando vive isso na pele.

    Faço um trabalho voluntário junto a crianças com câncer e fiquei pensando na luta dessa menina e até no sorriso em seu rosto, enquanto segue em frente em sua batalha.

    Bjos e recebam o meu abraço. Fico na torcida pra que dê tudo certo!

    Ivana

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  5. Oi Marina, tudo bem?
    Trabalho na agência Casa e estou atualizando o malling para envio de kit, que alguns clientes disponibilizam.
    Pode confirmar alguns dados?

    Blog
    Nome
    Telefone
    Endereço
    Nome e idade dos filhos


    Beijos e obrigada.
    Meu email é tais.bertoncello@casa.ag

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  6. Os seus textos são lindos, sempre me emociono!
    Poste com mais frequencia por favoooor!
    Amo demais seus textos.

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