segunda-feira, 13 de abril de 2009

Uma breve introdução



Ser mãe solteira aos 21 anos de idade não é coisa fácil. Aos 21 ainda somos inseguras e nos preocupamos excessivamente com a opinião alheia. Pelo menos eu me preocupava. Ainda nem estava acostumada com a idéia de que tinha uma vida sexual e era um tanto constrangedor desfilar com a minha cara de menina e minha barriga de grávida. Era como escrever na testa para todo mundo ver: “eu fiz sexo”.
Isso causava um grande espanto nas pessoas porque apesar da minha maioridade eu parecia ter uns 17 anos. Sem contar os tênis e calças jeans, meus itens preferidos no guarda roupas.
Ou talvez as pessoas nem percebessem... mas eu percebia a minha imaturidade.

Eu que nunca quisera namorar (sempre estive em paz com minha solteirice) fiquei obcecada por casamento. Não que eu quisesse casar. Apesar de mal ter iniciado a minha sexualidade já estava disposta a encerrá-la por ali. Naquela época eu só não me candidatei em um convento porque imaginei que não aceitariam uma aspirante à freira com um filho a tiracolo.


Eu simplesmente passei a reparar em como uma sociedade que se diz moderna ainda prezava coisas tão antiquadas como o casamento.


Uma propaganda de seguro de vida mostrava uma barriga de uns oito meses e uma mão acariciando-a enquanto um narrador falava qualquer coisa sobre cuidar das pessoas que amamos. A cabeça da dona da barriga não aparecia, nem nenhuma roupa, nenhum cenário... apenas uma reluzente aliança servia de figurino para modelo. Até na embalagem do adoçante tinha (ainda tem!) o retrato de um casal tomando café da manhã com seus pijamas cheirosos e duas alianças grossas o suficiente para serem notadas.

Eu via o olhar das pessoas desviarem da minha barriga enorme e redonda direto para a minha mão esquerda e depois, numa última hipótese esperançosa, para a minha mão direita. O mundo todo parecia me cobrar um pai para a minha barriga.


Ou, pensando de trás pra frente (ou de frente pra trás), talvez fosse apenas a minha imaginação e eu que na verdade fosse antiquada e sofria por não exibir aliança nenhuma em meu dedo.

Justo eu que achava a coisa mais cafona do mundo usar aliança de compromisso quando se é namorado, comecei a virar meu único anel de ouro de modo que o design de coração ficasse escondido na palma da minha mão. Aquele pequeno risco dourado em meu dedo me fazia sentir tão mais segura e pronta pra enfrentar todo o mundo.


Mas cá com meus botões eu sabia que aquele casamento era entre mim e minha filha apenas. Foram nove meses de noivado até que nos casamos no dia do seu nascimento. Um casamento que já dura quatro anos e que com certeza será eterno.


Depois que ela nasceu, logo depois mesmo, tipo no dia seguinte, eu já estava um bocado mais madura. Esqueci dessa história de aliança, apesar de sentir uma pontada no coração toda vez que via um pai babão na maternidade. De qualquer forma acho que mesmo que ele existisse um pai não caberia no nosso apartamento no hospital pois ele estava abarrotado de amor. O meu amor pela minha filha jorrava sem parar por toda parte, afogando tudo a nossa volta e suprindo toda e qualquer falta.


Eu não sentia mais falta de nada porque o que era mais importante eu conseguia carregar nos braços.


Mas a vida é aquela velha amiga sacana... que adora pregar uma peça na gente. Justo naquele sábado à noite em que você está disposta a ficar sossegada em casa ela vem toda animada e não te larga o pé enquanto você não topar sair e dar uma volta com ela. E em nome da velha amizade você acaba se rendendo e sai, mas com a certeza de que vai acabar se metendo em encrenca. A vida sempre arruma encrenca.

Dito e feito. A encrenqueira me arrumou um novo amor. Eu que já era uma obesa mórbida de tanto amor materno que existia dentro de mim tive que fazer meu coração crescer ainda mais para cultivar um amor de mulher por um homem.

Quando eu nem queria mais, ganhei uma aliança de verdade e sem nem perceber ela saiu da mão direita e foi morar na esquerda. Agora eu tenho uma família típica de propaganda de seguro e de embalagem de adoçante.



14 comentários:

  1. Ai, que lindo!!! Já amei o texto de abertura. Já vi que minha resolução de diminuir meu tempo online vai ter que esperar mais um pouquinho...
    Bjo!
    Thais

    ResponderExcluir
  2. Sua sensibilidade em desfrutar das palavras, seu bom humor ao torná-las suas escravas e a sinceridade de seus pontos-de-vista fazem de seus textos uma delícia de se ler! Obrigada por nos presentear com a sua genialidade, amiga! Te amo! Kerol

    ResponderExcluir
  3. Sabia que eu deveria ter vindo no primeiro post pra depois ir em frente... Já vi que vou virar fã dos seus textos!
    ADOREI os que li até agora! É gostoso demais o modo como vc escreve!
    Parabéns pela filhotinha e parabéns pelo casório!

    ResponderExcluir
  4. adorei esse post d abertura.. uma das coisas q mais eu questiono é isso. o pq do mundo cobrar esse tal anelzinho na mão esquerda.. eu nunca casei no papel. mas juntei duas vezes e com o segundo eu tive a Bia.. separei gravida 2 meses.. e eu nao aguentava essas perguntas tipicas d uma sociedade cheia d tabus q fala q é moderna. me identifiquei um pouco com sua historia e com esse texto!! sonho em construir uma familia "tipo capa d plano d seguro, d adoçante" hihihihhihi!! mas tudo ao seu tempo. Tb mudei MUIIIIIIIITO com, minha gravidez, e agora nao quero pressa!!! bjocas!!!! adorei seu blog, já linkei!!! virei fã!! li todinho!!! bjocas

    ResponderExcluir
  5. OI Nina, vim retribuir a visita e adorei o que encontrei. Vim conhecer um pouquinho da sua história e ví que vc é uma menina mulher assim como eu.

    Estarei sempre por aqui! vou ler tudinho!

    Beijocas

    ResponderExcluir
  6. Tive que vir até aqui, pra entender melhor a tua história.. Você escreve muito bem!
    Delicia de leitura!
    bjs

    ResponderExcluir
  7. Perfeito! Também fui mãe solteira aos 21 anos de idade e passei por exatamente tudo que você descreveu...
    Agora só me falta a parte do novo amor...rsrs (mas ainda está em tempo, pois minha pequena está com 02 anos!)
    Passei, olhei e me apaixonei... Com certeza virei mais vezes!

    ResponderExcluir
  8. Nina, esse seu texto acabou comigo, justo na hora em que eu pensava em desistir de tudo...
    De tão cansada, que estou com a vida de mãe solteira, as barreiras, as dificuldades, os limites, os preconceitos...
    Acreditando que não havia mais esperança pra mim, e eu deveria continuar afundadas na minha vida de mãe e profissional!
    Mas... o q eu descobri lendo o seu texto é que tenho muito medo do que a vida me reserva lá fora...
    Mas pelo que li aqui, não é tão ruim assim...
    rs...
    Acho q vou encarar!
    Beijoca

    ResponderExcluir
  9. Nossaaaaaaaaaaaa !!!! Amei tudo que Li aqui ...
    Eu estou gravida de 08 meses, mãe solteira e carente que só ! Hj mesmo estava pensando se ainda vou encontrar alguem que me ama e achei tudo isso aqui ... Me ajudou muito... Bjo e que Deus abençoe esse amor !!!

    ResponderExcluir
  10. Escrita deliciosa. Vim passear pelo teu blog...

    ResponderExcluir
  11. é... realmente é uma bela história! Estou curiosa para ''devorar'' esse blog!

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  12. Adorei sua história. Até chorei.
    Muitas vezes na minha gravidez senti as mesmas coisas que você.
    Ainda nem li o blog direito e já estou amando!
    Beeijos

    ResponderExcluir
  13. Oi, Marina. Como perdemos quando não temos tanto tempo disponível pra visitar todos os blogs que presentes em nossa lista de blogs preferidos! O seu blog está na minha lista e não tenho muito tempo, infelizmente, pra visitá-lo como eu gostaria. AMO blogs, amo saber das pessoas, ler os posts, comentar, me identifico tanto com muitos deles!! Hoje arrumei um tempinho e, por estar passando por uma situação de "mãe solteira/casada", o título do seu blog mais uma vez me chamou a atenção e resolvi ler o post de abertura do seu cantinho. Aproveitei li os comentários (rsrsr, desculpe) e concordo com todos eles. Você escreve muito bem! Tenho relatado minha trajetória de mãe solteira no meu blog e agora estou numa dúvida cruel: casar ou não casar, tentar ou não tentar, esquecer ou não esquecer? Mas minha situação é muito mais complicada, porque envolve ninguém mais, ninguém menos que o PAI DA MINHA FILHA, que me fez ser mãe solteira. Gostaria de ler uma opinião sua, já que você foi mãe solteira e agora é casada. Beijos.

    http://mae-solo.blogspot.com

    ResponderExcluir