Tenho um guru na família. Olhos penetrantes, paz e amor irradiantes. Quatro anos de idade. Minha filha.
Muito se fala sobre a importância e o valor da infância, mas não sei até que ponto as pessoas realmente enxergam a criança. Não falo aqui da criança como filho, mas da criança como fonte de sabedoria. Um pequeno ser tem muito mais para ensinar do que a função de ser pai ou mãe. Uma criança nos ensina viver.
Por que eu acredito tanto assim no poder infantil? Simplesmente porque há na criança toda a essência humana, sem os calos da vida, sem as rédeas da sociedade, sem a fragilidade do medo, sem a praticidade do cotidiano, sem as sujeiras do preconceito. A criança desfruta da vida livremente, e é isso que as torna tão especiais.
Para aprender com uma criança tem que ser inteligente. Primeiro é preciso desprender do formato tradicional de aula, em que um professor mais velho e experiente dá o bê-á-bá da vida para seu pupilo. A criança ensina em cada gesto, em cada movimento despreocupado do dia. Tem que ser sensível para perceber a aula, para entender nas entrelinhas de sua sutileza.
Ontem minha filha perdeu o primeiro dentinho, acontecimento que me encheu de sentimento (ainda não definido). Ver seu corpinho amadurecendo deixou meu coração cheio de sei-lá-o-quê. Ela, contudo, estava muito certa do que sentir: transbordava de alegria. Veio cantando por todo o caminho da escola até em casa, presenteando o mundo com um sorriso banguela. Passou o resto do dia se admirando no espelho. Ela não enxergava uma coisa faltando, um dente perdido. Acreditava que a natureza estava feliz, com fadas discutindo quem iria buscar seu dentinho e levá-lo de volta para esse lugar mágico que é o mesmo de onde as crianças vêm.
Fiquei imaginando se seria possível a gente reagir da mesma forma ao perceber uma nova ruga, vendo a juventude ir embora carregada por fadinhas serelepes. Que bom seria poder vibrar toda vez que sentíssemos a natureza agindo sobre nós.
Minha guia-espiritual particular não para de me dar lições de vida... mas certas coisas continuam sendo possíveis só para seres iluminados como as crianças.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Jovem Guru
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Eu entendo TANTO e compartilho com vc essa teoria de que as crianças são gurus. No livro "O Mundo de Sofia", o autor faz uma metáfora que corrobora com sua teoria. Ele diz que o universo é um grande coelho branco tirado da cartola do mágico-criador. Todos nós nascemos na pontinha dos pêlos desse coelho e por isso somos capazes de entender tudo o que está além e aquém desses pêlos. As crianças, se esgueirando para não cair, olham diretamente nos olhos do mágico-criador. Sendo assim, cada novo acontecimento, cá e lá, é visto com o encantamento de quem tudo capta. À medida que vamos crescendo, vamos escorregando das pontas dos pêlos (será que tem a ver com o peso?? =) até que nos alojamos lá no fundo e comodamente nos acostumamos a viver na base. Passamos a não enxergar o que é realmente importante e esquecemos do encantamento que é cada novo acontecimento. Nosso mundo passa ser o que está ao nosso redor. Os adultos não são capazes de enxergar os olhos do mágico, salvo pelas poucas vezes em que um vento de sabedoria sopra em cima da nossa base e afasta os pelinhos para que possamos ter uma visãozinha. Ou quando aprendemos com as crianças a sermos mais... crianças. E nós, mães, premiadas com crianças tão especiais, somos bastante responsáveis por mantê-las lá em cima, né? E isso eu aprendo sempre com vc. Amiga, ainda que viver nas bases seja uma exigêngia da existência, é gratificante conviver com alguém que vive escalando os longos pêlos. Você, e seus textos, são sempre uma inspiração. Te amo!
ResponderExcluirQue gracinha, mas tão novinha já perdeu o dentinho? As crianças com as quais convivo começaram a ficar banguelos por volta dos 6, 7 anos. Sou encantada, curiosa e observadora das crianças. Ainda não sou mãe para ter uma por perto sempre. Mas sempre que tenho oportunidade, convivo o máximo com bebês e crianças.
ResponderExcluirParabéns pelos textos.
É incrível como as crianças transformam em magia todos os seus momentos, um simples dentinho faltando na boca é algo tao magico e fantastico capaz de criar mil fantasias em suas cabecinhas.Agora eu sou a fadinha do dente da familia =)!
ResponderExcluiramo vcs, e nao me canso de passar todos os dias aqui e sugar um pouquinho desse aprendizado cotidiano.
É prima, crianças são seres extraordinários. Às vezes me assusto quando me lembro de que fui uma... a vida é tão louca e frenética que acabamos nos esquecendo disso. Seria bom se soubéssemos trazer mais para nossas vidas o extraorinário de nossas infâncias. Com certeza a vida seria bem mais leve.
ResponderExcluirBeijo
Que lindo o texto! Adorei!
ResponderExcluirBjss
Poxa...Sou profa e lido diariamente c a criançada: pequenos gigantes! E sempre adorei criança: singelas e espontâneas...Lendo o seu texto m lembrei do livro "O pequeno príncipe" que só fui ler agora, aos 25 anos de idade. Mas pq m lembrei desse livro? Pq para compreendê-lo em tda sua essência, não é preciso ser criança, mas percebê-las, enxergá-las como seres de grande sabedoria, como vc disse. É tão bom estar rodeada por elas!
ResponderExcluirUm grande abraço!
P.S.: Não sei qual sua profissão, mas li em algum dos seus posts q vc quer ser escritora. Vc n quer ser, vc já É!!!Parabéns pelo dom de escrever e por nos presentear c seu blog!
=)
q texto lindo.. vc falando d criança.. da alma delas né.. a Bia veio nesse mundo pra mudar a minha vida, me fazer ser melhor, me fazer perceber q tem gente má, muito má.. seus textos sã tão bacanas.. eu percebo a realidade neles.. adorei todos.. esse em especial né.. a Bia é minha pequena alma velha sabia.. ela é dakeles bebês q olha pra você como se já t conhecesse, como se estivesse só ali pra t fazer bem.. pra t ensinar.. e como vc disse "ensinar a viver"!! bjocas Nina
ResponderExcluirAi que texto lindo!!!realmente cada evolução da Cecília eu vibro por dentro, e não sei se ficaria feliz assim com uma ruga.. rsrs.
ResponderExcluiradorei!
Oi, Nina,
ResponderExcluirDescobri seu blog nem lembro como, mas adoro seus textos. São muito bem escritos e contêm uma essência singela, que poucos têm. São frases pequenas, mas com sentidos imensos, que me faz desejar tê-las escrito. Você vê o mundo de maneira diferente, detalhada. Parabéns pelos textos. Li seu blog em dois dias (se não fosse meu guri, seria numa tarde) e já peço permissão para adicioná-lo ao meu blogroll. Bjos.
PS: Como bem disse uma pessoa no comentário aí em cima, vc não quer ser escritora, vc já é.