quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vícios da maioridade


Mesmo antes de experimentá-la eu já a conhecia, assim, de ouvir falar mesmo. Minha mãe e meu pai sempre me alertaram sobre ela; meus avós, alguns amigos e até mesmo o padre na Igreja também tentaram abrir meus olhos. Mas não teve jeito, ela me pegou.

Não lembro com detalhes o primeiro contato direto que tive com a coisa... só sei que com o passar dos dias ela foi me envolvendo, tomando conta dos meus pensamentos, da minha rotina, da minha vida. Antes mesmo de o sol aparecer eu já estou em pé, com o coração acelerado na pressa de sair logo pelas ruas em busca dela. O desespero é tanto que às vezes deixo até de me alimentar, de pentear o cabelo ou de me vestir decentemente. Eu juro que por diversas vezes eu tentei, mas tentei de verdade, ficar sossegada na cama. Apertava o olho bem forte pra ver se conseguia dormir, mas ela vinha como uma voz dentro da minha cabeça, gritando pra que eu acordasse.

Já pedi ajuda aos amigos, que sempre estiveram de braços abertos pra tentar me livrar desse vício. Eles de vez em quando me buscam para um passeio, para um chope... mas em poucos minutos eu já fico inquieta, olhando pro relógio e arrumando alguma desculpa pra voltar e me entregar a ela de novo.

Em uma das minhas últimas tentativas de me livrar de uma vez por todas da maldita, fui passar uns tempos na casa dos meus avós. Confesso que a vida pacata do interiorano é contagiante; com alguns dias já estava bem mais tranqüila e desligada de qualquer coisa. Finalmente paz.

Mas a danada parece que ganhou vida própria e veio correndo atrás de mim. Quando me achou estava furiosa, avassaladora. Agora estou aqui, sentindo-a pulsar nas minhas veias, me consumindo solitária nestas quatro paredes. Mas eu tenho fé de que não vou chegar ao fundo do poço, de que essa perdição não vai me consumir.

Definitivamente a responsabilidade é uma droga!



Texto escrito dia 29 de julho de 2005, em Belo Horizonte.

6 comentários:

  1. Oi Nina, adorei seu blog! Muito bonito, os textos são muito legais. "Te conheci" através do blog da Lia, mãe da Emília.

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  2. Muito bom, não é que essa maldita me deixou, kkk, pelo menos por uns dias.
    Bjus

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  3. Muito bom e muito bonito e interessante o seu blog. "Te conheci" através do blog da Lia. Parabéns!

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  4. Legal a dica do foto álbum, mas eu fiz algo muito menos tecnológico... Álbum artesanal com cantoneiras! Encomendei pela internet, coisa mais linda. Agora vou brincar de diagramar à moda antiga, na mão mesmo.
    Sabe, Nina, quanto à calma X prazer de deixar as coisas prontas pro bebê, acho que tem muito a ver com a idade. Quando eu tinha 21 anos, também levava as coisas de uma forma bem mais light. Depois que a gente vai ficando velho (não só na idade: trabalho, dinheiro, responsabilidade, casamento, apartamento próprio), a gente fica muito mais inseguro. O padrão de exigência sobe, a gente caba precisando de muita coisa que antes era perfeitamente dispensável. É ridículo, né? Mas é que aos 21 eu ainda achava que meus pais cuidariam de mim caso algo não desse certo, e agora é a sensação de que somos eu e meu marido que temos de cuidar de nós - e da nossa filha. É um "se vira nos quase 30!".
    Mas espero poder curtir esse finalzinho de gravidez como você fez. Não é sempre que se tem a graça de estar grávida!
    (Ah, e eu também tive meu momento bom ontem: filmei toda a arrumação da mala, conversando com minha filha. Mostrei a barriga, o quarto... acho que vai dar uma lembrança legal!)

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  5. Nina! Td bem?? legal vc ter comentado lá no meu bloguinho. Então. Você falou que não me imagina com pudores pra falar as coisas pros outros. Mas, na vida real, eu não tenho coragem de falar quase nada. Criei o blog justamente pra eu poder falar qualquer coisa de qualquer pessoa e tudo de mim. Por isso uso outro nome e não passo o endereço pra conhecidos. Nem o meu marido sabe que o blog existe! Hhehehe. É o meu divã vitual (e grátis). Beijão!

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