Quando eu era grávida fiquei preocupada. Afinal, onde estava aquele amor louco de mãe para filho? Eu sentia alguma coisa pelo meu oculto bebê, mas estava longe de ser o que as propagandas de dia das mães tentavam explicar.
Por via das dúvidas (literalmente), resolvi perguntar ao psicólogo. Ele disse para não me preocupar pois todo tipo de amor é conquistado, inclusive o materno.
Então continuei esperando, que é o que as grávidas fazem além de comer e fazer xixi. Alguns dias antes da cesárea eu olhei para o meu quarto e vi todas as minhas coisas de adolescente empilhadas de um lado e do outro vi a imensa bagagem daquela visita iminente. Quem era aquela pessoa folgada que estava para chegar e ficar de vez, assim, no meio da minha vida?
Vocês já notaram como as lembrancinhas todas dizem “Cheguei”? Não podia ser um “Dá licença, por favor”?
Será que a juventude iria gostar da nova colega de quarto: a maternidade? Ela nem chegado tinha e já estava tomando conta de quase tudo, oras bolas.
Então chegou o dia, uma tarde preguiçosa e alegre de domingo. Talvez o único fim de tarde de domingo alegre que já aconteceu na história da humanidade. Com a serenidade de alguém que não tem a mínima idéia da real dimensão do que estava preste a acontecer, fui para a maternidade com a minha mãe e a “visita” clandestinamente viajando em minha barriga.
E então entendi porque chamam o nascimento de milagre. O milagre não é a vida. A vida já existia lá dentro, enquanto eu era o transporte. Completa e cientificamente explicado.
Milagre foi ver tudo, absolutamente tudo em mim se modificar em uma fração de segundos.
Com a primeira nota do seu choro de vida eu reconheci, quase como se tivesse finalmente caído em mim e lembrado, quem era a minha visitante.
E desde então estou em busca de um poema que consiga descrever o que eu sinto pela minha filha sem soar como um clichê. Nada contra os clichês (adoro a honestidade de suas verdades). Talvez apenas uma coisa contra: os clichês, de tão recorrentes, transformaram-se em objetos e as pessoas usam e abusam deles sem realmente pensar em seus significados.
Nem Camões nem Shakespeare. O que mais chegou perto, mesmo que ainda longe, do meu sentimento foi o rei. Elvis? Não. Roberto Carlos. Afinal, não precisa complicar em versos e vocabulários para fazer sentir. Um toque vale tão mais que a descrição do sistema nervoso.
E todo calmaria ele diz: “Você não sabe quanta coisa eu faria além do que já fiz, você não sabe até onde eu chegaria pra te fazer feliz. Eu chegaria onde só chegam os pensamentos. Encontraria uma palavra que não existe pra te dizer nesse meu verso quase triste como é grande o meu amor!”
E enquanto as palavras não alcançam os pensamentos, vou tentando sem sucesso...
Como poderiam as palavras
Entrelaçarem-se de tal forma
e resultarem em uma frase
Que não cabe dentro das letras
Como pode um ser
Tão de carne e osso
Expandir sua presença
Para além dos meus universos
Como pode uma mãozinha
macia e despreocupada
Fazer prisão perpétua
Com meu coração ansioso
Como um piscar despretensioso
Assopram todos os significados do mundo
e me levam para um vazio
repleto de ternura
...
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Adorável Intruso
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E vc ainda quer procurar mais palavras?
ResponderExcluirAcho que é exatamente tudo o que vc disse, acho que nunca ninguém descreveu tão bem a maternidade... Com palavras simples e verdadeiras, amei...
bjs
:)
Bárbara
http://essavidademae.zip.net
Ai, meu Deus! Cada vez que penso "deixa essa história de bebê pra depois", e finjo que me convenci com argumentos pra lá de levianos, vem alguém e me enche de vontade de ser mãe... não coincidentemente esse alguém correntemente vem a ser minhas melhores amigas, e entre elas vc... Seria por isso que tenho a impressão que vc vai ser uma das primeiras a saber quando esse dia chegar?
ResponderExcluirSaudades gigantes!!!
Que maximo, que maximo! Adorei quanto a saudade de escutar alpha fm na crônica que pediu para que eu lesse!!
ResponderExcluirE que eles fazem falta com as manias, ô se fazer!
Ja virei sua fã.. passarei sempre por aqui.
Mil beijos
OIEE... adorei seu poema... hoje pensei muito a respeito, ser mãe nos dias de hoje é muito mais complicado, senti isso na pele porque tinha uma reunião de trabalho em outra cidade a 200 km's de onde moro, tentei me organizar pra estar em casa as 5 para a homenagem de dia das mães da escola de meu pequeno, mas choveu muito, a reunião atrasou entre outros problemas e não consegui chegar, me senti pessima, dirigi 200 km's de volta, chorando e me sentindo pessima... as vezes tentamos fazer tudo, suprir todas as necessidades de nossos filhos, do nosso trabalho e da casa e de muito mais... é nessas horas que paro e penso nas minhas prioridades e com certeza meus dois principes são mais importantes que qualquer outra coisa e decepciona-los, dói mto...
ResponderExcluirBjos e feliz dia das mães...
É completa verdade! A gente só sente o verdadeiro AMOR depois que ouve o primeiro chorinho. Antes é um amor comum... um amor que só protege enqto não chega o dia de conhecer o AMOR.
ResponderExcluirLindas as suas palavras, Nina...
aaah! Nao vejo a hora de ser mae tb! ahahahahah
ResponderExcluirNina, que lindo! Adorei o texto, é perfeito. Obrigada pela visita. Vou passear por todo o seu blog que, pelo aperitivo que tive, deve ser delicioso!
ResponderExcluirbeijos!
adorei a indicação, nunca tinha visto a maternidade c essas palavras mas nao é q vc estava certa!!! realmente nao existem palavras para descrever esse amor.
ResponderExcluirMuito lindo seu texto! Adorei.
ResponderExcluirE não deixe de noa avisar qdo o blog sobre literatura estiver no ar.
Um beijo!