quarta-feira, 13 de maio de 2009

Calcinhas no Divã

Eu não sei alguém já reparou, mas as calcinhas que usamos refletem diretamente o nosso humor do dia.


Não são como os cabelos, que determinam este humor. Alguém já teve um dia bom depois de sair de casa com o cabelo oleoso e sem lavar? Tenho certeza que não, da mesma forma que estou certa de que nunca neste planeta alguém saiu do salão com uma super escova maravilhosa se sentindo deprimida.


A história com as calcinhas é diferente. Trata-se de uma relação passiva. Elas não mudam o nosso humor como o cabelo, apenas refletem-no.


A escolha diária de calcinha definitivamente não é aleatória.


Por exemplo, em dias de baixo astral quando de repente ataca aquela saudade de colo de mãe (provavelmente resultado de uma gripe ou TPM) a gente abre a gaveta e já vai direto na calcinha enorme e proporcionalmente velha. Apesar do desbotado, você consegue identificar bem as sombras de desenhos que sobram da estampa. Afinal, são anos e anos de intimidade com aquela exata calcinha. Você a tem em consideração como uma velha e fiel amiga e nunca, jamais cogitou jogá-la fora durante uma limpeza de armário.


Há também aquela calcinha que você odiou desde o início. Ela é grande e cara e você só a comprou na esperança de poder substituí-la pela calcinha-velha-amiga. Mas foi chegar em casa e vesti-la e você não só já se arrependeu como sentiu um remorso enorme por ter cogitado dispensar a sua antiga companheira. Você não tem coragem de dar a maldita para alguém porque ela é nova e custou caro demais. Então você a deixa na gaveta e com o tempo ela vai sendo jogada para os fundos como um jogador esquecido no banco de reservas. Até o dia em que você está com pressa, abre a gaveta e não há nenhuma calcinha para usar. Você não viu isso acontecer porque a gaveta parecia estar cheia (de meias, biquínis, lenços, sabonetes). Você vasculha aquele emaranhado de coisas em desespero até que ela aparece gloriosa, provavelmente ainda com a etiqueta. Você nunca amou tanto esta calcinha. Então você a estica com toda a força que tem com o intuito de arrebentar alguns elásticos, mas a danada é de ótima qualidade e mal mal você conseguirá arrebentar um micro fio. Durante o dia você se arrepende por não ter checado o varal em busca de uma calcinha humana e jura que nunca mais usará a calcinha odiosa que você está vestindo. Aliás, você tem ódio do mundo inteiro neste dia. Mas você provavelmente vai esquecer-se de toda a mágoa pela calcinha antipática quando ela estiver lavada e guardada na gaveta. Ela irá para o banco de reservas novamente e entrará em campo em outro dia de desespero... o que se repetirá por muitos e muitos anos. Não se deprima, você não é tão fraca assim. Um dia você irá desfazer-se dela.


Subindo na hierarquia das “roupas-de-baixo” temos aquele tipo de calcinha da sua pré-adolescência. Ela só ainda serve porque já teve os elásticos arrebentados e as fibras do algodão perderam toda a elasticidade. Na camada dupla de pano há uma coleção de furos-ventilantes, o que não lhe incomoda nem um pouco. Você não nutre nenhum sentimento afetivo por ela que apenas lhe é útil. Estranhamente é selecionada justo quando você está super produzida para uma entrevista de emprego ou situação onde você precisa se sentir confiante. Além de não incomodar, a calcinha não marca a roupa. Você é uma mulher segura, com a auto-estima nas alturas. Aquele trapo que nunca permanece corretamente dobrado na gaveta, mas sim engruvinhado pelo elástico vencido, provavelmente se decomporá antes que você resolva jogá-la fora.


Para enfeitar a gaveta temos todas aquelas calcinhas maravilhosas de renda e lycra. Quando a gente as vê na sacola da colega que trouxe para revendê-las no trabalho ou mesmo nas araras das lojas elas parecem irresistíveis. Você precisa delas. E elas continuarão lindas por muito e muitos anos, porque você mal vai usá-las. Primeiro porque são estreitas demais. A renda se enrola toda e faz seu pneu lateral se dividir em dois, como um vale entre duas montanhas. Quando você finalmente a tira no fim do dia procura por ferimentos no quadril. Doeu tanto que deve ter sangrado. Você está triste, se sentindo gorda e injustiçada pelo mundo. (É o momento certo de recorrer à velha calcinha amiga.)


E no topo da família das lingeries encontraremos as mini porém majestosas tangas-super-sexy. São como os vestidos de gala no nosso armário: têm o grande privilégio de só serem usadas em ocasiões especiais, quando você está depilada e muito bem humorada. (Ninguém escolhe uma calcinha fio-dental com strass num dia infeliz). As rainhas da gaveta, serão usadas por poucas horas e terão direito a sabão de coco e banho à mão.



3 comentários:

  1. É verdade! Calcinhas refletem o estado de espírito da gente!
    Pra te falar a verdade, eu fui forte e consegui vencer as barreiras: joguei muitas no lixo esses dias pra trás. E estou determinada a comprar lingerie nova pelo menos a cada 3 meses pra renovar minha gaveta, pq eu estou me renovando. E tenho me sentido muito bem ultimamente, por isso não tenho precisado muito daquelas calcinhas velhas... Na verdade eu só as uso qndo estou 'naqueles dias', qndo preciso de uma maior pra acomodar o absorvente e tal... rs

    ResponderExcluir
  2. Olha, não tenho mais calcinhas da adolescencia, até pq. minha adolescencia foi a mto tempo, hehehe... Mas tenho as pós parto... E na grande maioria, as minhas são de algodão... E as que não são, são pra momentos de namoro mesmo... Bom, cada uma tem suas estórias com as calcinhas, né?
    Bjs
    :)

    Bárbara

    ResponderExcluir
  3. haahahahahahhahahahahahahaahhah!
    Meu Deus! Estou rindo horrores por aqui, imaginei cada cena ao vestir, procurar e comprar calcinhas...
    Nada como as boas amigas confortáveis do dia a dia...

    Beijos!

    ResponderExcluir