quarta-feira, 20 de maio de 2009

Prós de um marido

A aula acabou num piscar de olhos. Despenquei para a realidade e vi que ainda faltava uma hora inteira para encontrar com meu marido em um restaurante ali perto. Lembrei do Sophie Kinsella que por sorte ainda estava na minha bolsa. Ufa... distração garantida. Não achei, contudo, muito esperto da minha parte abrir “Confessions of a shopaholic” com sua capa rosa choque na frente da professora, uma dessas intelectuais de meia idade com pele super bem hidratada que usam echarpes e falam de literatura sempre sorrindo (o que nos obriga a sorrir de volta a cada contato visual estabelecido). Tudo bem que estava com a versão em inglês, o que me dava algum crédito. Ainda assim, era um best-seller do New York Times. Melhor ir ler no restaurante.


Cheguei lá toda orgulhosa por não ter ficado perdida pela cidade. O lugar era bem aconchegante. Logo achei uma mesa, sentei-me e abri o cardápio. Não estava com sede nem nada, mas eu sempre achei um arraso essas mulheres que ficam bebendo um Martini com azeitona sozinhas no restaurante até um homem maravilhoso aparecer e acender o seu cigarro. Não tinha Martini no menu e eu não fumo. Pedi um “meia de seda” e tirei meu Kinsella da bolsa.


Lembrei-me dos meus dezesseis anos, quando eu jamais chegaria em algum lugar sem uma amiga do lado. Ao contrário daquela época, eu já não achava mais que as pessoas ao meu redor pensavam que eu estava levando um bolo, nem que eu era solitária ou suicida. Na verdade, dez anos mais velha, o que senti foram vários olhares de admiração: Que mulher independente!


Toda minha segurança ficou abalada quando uma menina maravilhosa entrou com um amigo e sentou-se na mesa ao lado. Ela também usava uma echarpe, o que significava que ela era algum tipo de intelectual. (Por que eu não trouxe a minha?) Ela era branquinha, cabelos castanhos claros, rosto de francesinha delicada. Em outras palavras ela tinha aquela cara de cê-u que os homens adoram (ou não). Não sei porque, mas ela não tirava o olho de mim. Eu podia ler três páginas seguidas, mas bastava levantar o olhar para pegá-la me olhando. Mas que inferno! Será que ela é lésbica? Será que estou com bigodinho de Meia de seda? Só por precaução preferi dobrar a capa meu livro.


Um grupo de pessoas abriu a porta e eu virei para ver se era quem eu esperava. Droga: não era. Droga de novo: eu não devia ter olhado. Isso me fazia parecer ansiosa, com medo de levar um bolo.


O grupo foi direto para a mesa da francesinha estúpida. Ótimo! Agora ela tinha um monte de amigos e eu era uma abandonada. Fechei meu livro e arrumei a postura. Joguei meu cabelo pro lado. Eu estava ótima.


Pra completar ela começou a conversar na maior altura, já que agora eu tinha me livrado do meu escudo (o livro) e poderia prestar atenção na conversa dela. "Garçom, por favor, uma coca zero (só porque não existe a Coca-um-negativo) sem gelo. PRECISO POUPAR MINHAS CORDAS VOCAIS, ESTREIO SEMANA QUE VEM".


Pensei em mandar uma mensagem para ver se ele ainda ia demorar, mas me detive antes de assinar meu decreto de insegurança. Sequer olhar as horas no celular é sinal de desespero absoluto. Não olhe as horas. Não olhe as horas.


E o papo continuou, sempre com ênfase nas partes em que dava a entender que era atriz. Pra falar a verdade, só então reparei no resto das pessoas que estavam no restaurante e todas pareciam ser atores (ou então roupa de brechó realmente está na moda e eu não sabia).


Ela olhou de novo. Maldita! Sustentei o olhar na direção dela, aceitando o desafio. Que diabos você quer de mim, sua francesa estúpida? Ela cerrou as pálpebras como quem diz: “eu sou uma atriz enquanto você é uma aspirante à escritora alcoólatra e solitária.” Será que ela sabe do meu desejo de ser escritora? Decidi que era hora de apelar para minha melhor arma: A ALIANÇA! (É hora de morfar!)


Levantei a mão esquerda e apoiei meu rosto nela, deixando apenas uns dois centímetros entre meu olho esquerdo e a aliança. "Muito bem, sua idiotinha. Você é uma atriz mas EU TENHO MARIDO! Beat that!"


Antes que nossas falas saíssem do plano telepático e realmente fossem pronunciadas senti uma mão no ombro. Quase desmaiei de susto. Era meu marido, lindo, de terno e gravata. Assim que levantei me deu um beijo daqueles de tirar o fôlego e sentou na minha frente. Finalmente, o meu time tinha entrado em campo. Eu era feliz, linda, casada... e não precisava de uma echarpe para ser intelectual.


Olhei para a francesinha com um olhar de desprezo e disse com as pálpebras: "GET A JOB!"



6 comentários:

  1. Oi Nina!!!

    Sabe que também me sentia super insegura em ir em algum lugar, alias, chegar em algum lugar sem as minhas amigas.
    Não sou casada como você, mas me sinto um máximo quando vou buscar meu namorado em algum lugar e ele entra no carro e todos ficam olhando.
    O amor nos torna mais seguras, mais mulheres. Eu adoro isto!

    Beijos...

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  2. Hahahahaha! Muito bom o texto, parabéns! Quando eu tiver um marido, espero escrever coisas assim também! ;)

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  3. essas mulheres... hahahaha! amooo!!!

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  4. Nina!!! Valeu a pena a espera. Longos sete dias desde o seu último post, mas valeu, este ficou MUITO bom!
    Caramaba, sou capaz de ver a cena na minha frente... Vc tá escrevendo cada vez melhor! YOU ROCK!!!

    Adooooooooro!

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  5. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    ADOREI esse post! Sinceramente? Ficou bem parecido com os Best Sellers do New York Times. Eu gosto deles...
    Qndo almoço sozinha (o q tem sido raro), ADORO pegar uns livros desse tipo e ler em praças de alimentação. Nunca li num restaurante, esperando por alguém...
    Mas enfim, ELE chegou! E a salvou de um duelo de palavras, huhuhu. Se eu fosse a atriz francesa, já teria sido vencida qndo vc mostrou a aliança, kkkk

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  6. ameeeeeeeei!!!!!!!!!!!! hehehehe to rolandoo d rir! mto bom mesmo Ninaaa!!

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