segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Quinta-feira


Sempre tive pavor à feira. Desde pequena, quando minha mãe me carregava dentro do carrinho de compras e me prometia qualquer guloseima que tivesse lá, que definitivamente não eram muitas, eu odiava o programa. Feiras e afins eram sempre feias, sujas, cheias de tomate podre no chão e folha de alface pisoteada.
Para tentar me entreter, mamãe me concedia a honra de escolher batatas ou cenouras. Arrasada eu ia até a banca, pegava algum saquinho (desses que sempre estão molhados, sabe-se lá porque) e começava a escolher os legumes com as pontinhas dos dedos com medo de que alguma larva ou inseto qualquer viesse me surpreender. Além do que era sempre difícil saber se estava escolhendo certo: ora o legume tinha que ser mais durinho, ora mais molinho... e eu simplesmente não entendia nada daquilo e fazia qualquer coisa para esperar dentro do carro.
Os anos se passaram e logo na primeira semana de casada fui despertada às cinco da manhã com uma barulhada em baixo da janela do meu novo apartamento. Indignada com esses paulistas que não se cansam de trabalhar, abri a janela e me deparei com uma longa e colorida feira se esticando por toda a minha rua.
Engajada em ser boa mãe e esposa, resolvi descer para comprar algumas coisas saudáveis para o almoço. Foi então que tudo mudou.
É completamente diferente fazer a feira quando é você quem vai lavar, descascar, preparar e comer os legumes e verduras. De repente eu percebi aquele cheirinho de fruta fresca que minha mãe tanto gostava. Fui andando e comprando um brócoli ninja aqui, uma banana nanica acolá e quando percebi já estava com os braços gangrenados de tanta sacola. Sorte a minha de morar a apenas alguns passinhos dali. Voltei para casa, recarreguei o meu bolso como quem recarrega uma espingarda e voltei para a caça.
Digo “caça” porque não é nada fácil se dar bem na feira. Você tem que farejar o melhor bando, localizar a melhor presa e correr antes que outra caçadora chegue na sua frente. Neste processo muitos pés sujos de tomate são pisados, ombros chocados... mas tudo vale na lei da feira.
Lá pelas dez da manhã o sol com a ajuda das panelas de óleo das barraquinhas de pastel fazem das lonas coloridas uma verdadeira estufa. É aquele calor insuportável, é batata rolando no chão, é gente se esbarrando, é feirante aos berros cantando seus jingles “Pra ficar legal, a bacia é um real”... Se tivesse areia e cerveja juro que daria pra confundir com um show de axé.

5 comentários:

  1. Fui à feira hoje, e confesso que ainda não amo essa tarefa doméstica não...

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  2. Nina,
    Adorei seu blog. Lindo e inteligente... Confesso que também olho para a feira com um certo temor... Não gosto, ainda prefiro os sacolões ou supermercados... Mas quando é necessário dou uma passadinha rápida, mas sem correr para não pisar no tomate...hahahahha beijinhos

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  3. ai migammmm, cada texto teu que eu leio pelo menos uma risada do dia já tá garantida... nao sei porque mas acho q ainda vamos fazer aquele nosso "projeto" descambar para a comédia....hehehehehehehehehe, bjsssss
    http://fernandabolssonsheisme.blogspot.com

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  4. Tá aí uma coisa que a gente não combina... Eu sempre AMEI fazer feira! Sempre fui a escolhedora oficial de legumes (ainda que não os comesse!=). E olha que eu morava em Montes Claros, onde o Mercado Central é umas 10 vezes mais esculhambado que o de BH! =)
    Morri de rir. Vc está cada dia mais afiada. Vc merecia um poema assim:

    PERFIL

    Machado não tem o corte
    do machado, nem o gume, o gesto
    brutal do braço que o empunha, mas
    a firmeza da mão que escreve o livro
    (tirado da árvore abatida pelo golpe)
    com pena afiada, atroz, e tinta medida
    onde a gente se lê, lendo-o
    e se corta, desprevenido, de surpresa
    no fio da folha do papel fino.
    (Armando Freitas Filho)

    [Sim: eu te comparei a Machado de Assis!]

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  5. Hmmm... eu gosto de fazer compras e quero aprender a comprar outras coisas de feira (sei mto pouco, kkk). Mas não compro em feiras assim, não.... só hortifruti, kkkk

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