sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sobre mães e filhas

Eu não tenho filho homem e nem quero gerar conflitos entre mim e meu irmão, mas acredito que a relação entre mães e filhas seja especial.


Desconfio ter sido na infância o que minha filha é hoje: a melhor amiga da mãe. Costumava acompanhar minha mãe em tudo quanto é lugar- cabeleireiro, supermercado, academia, loja, chá, bingo. Lembro com muita clareza de esticar um colchonete do ladinho dela na aula de localizada e ficava lá, imitando-a levantar as pernas e fazer abdominal.


Em algum estágio do meu desenvolvimento aconteceu uma dessas coisas que Freud explica: passei a nutrir uma enorme vontade de morar em uma casa junto com minha avó, minha mãe e uma filha que um dia, de alguma forma, eu haveria de ter. A idéia de viver nesse universo feminino e cheio de ternura era maravilhosa. Fiz ,então, o meu pacto de fidelidade e amizade eterno com as mulheres da minha vida.


Agora penso que esses desejos da infância escondidos no subconsciente possam ter um dedo a ver com as circunstâncias do nascimento da minha filha. Naquela altura meus pais já eram separados, meu irmão ficava mais fora do que dentro de casa e eu não tinha marido, sequer um namorado de verdade. Éramos apenas nós três: eu, minha mamãe e minha filhinha. Mais tarde formamos o quarteto indo parar as três de mala e cuia na casa da minha avó. Fez-se realidade minha fantasia de infância.


Quatro mulheres constituíam uma família completa. Nós nos entendíamos em todas as nossas complexidades e nos bastávamos. Mas que traiçoeiro é o amor, com as suas várias faces.


Quando me apaixonei por um homem, alguém que definitivamente não constava nos meus planos infantis, senti-me uma grande traidora (depois de surpresa e confusa). Que direito tinha eu de romper o meu pacto cor de rosa? Quem era eu para tirar da minha mãe a neta que ela viu nascer e crescer? E aí me vi amarrada pelos braços apertados do amor materno, redobrado pela presença da minha querida avó.


Quanta coragem deve ter uma mulher para dizer sim a um homem diante do altar.


Hoje, quando vejo minha filha me imitando na maneira de falar ou de carregar a bolsa ou passar o batom, temo pela possibilidade de um dia ela querer viver apesar de mim. E então tenho raiva do amor ser assim, tão possessivo e cruel.


E de repente fica tão mais poético pensar nos reencontros de domingo, nas trocas de receita, nos telefonemas a longa distância, nos genes perpetualizados, nas manias herdadas... e nas várias outras formas de ser para sempre mãe e filha.





Mami Ana Maria, feliz dia das mães! Amamos você!!!


3 comentários:

  1. Ai... eu fico pensando nisso às vezes! Não moro com minha avó, mas sei que minha mãe vai sofrer qndo eu resolver sair de casa... E Sofia tbm vai! rs

    Ah! Eu tbm 'programei' a minha gravidez! É engraçado qndo a gente lembra essas coisas...
    Eu sei que qndo tinha meus 12 anos eu vivia falando q ia ter uma filha entre 20 e 25 anos. E Sofia veio BEM NO MEIO TERMO: engravidei com 22 e ela chegou aos 23... E tbm 'programei' ser mãe solteira, pq sempre q pensava em filhos eu me via sozinha (sem marido). E meu pais tbm são separados desde muito cedo (eu tinha 3 anos), rs.
    Pois é... a vida é assim!

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  2. Adorei esse texto, apesar de meu mundo ser "azul"... Marido + 3 meninos(trigêmeos)!!! Parabéns !!

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  3. Eu tenho dois filhos, viu Nina? A menina é mais velha e é o grande amor da minha vida! É uma querida,e é tudo o que eu queria ser qd menina. Minha melhor amiga, confidente, querida, mt querida, minha Laura.
    O menino é a minha paixao, é um amor diferente demais.
    as pessoas dizem que é mais facil ter um menino, olha,nao acho nao, as meninas sao como nós, elas nos compreendem melhor e a gente as entende bem. os meninos, bom, é outro mundo, sabe?? mas nao menos interessante, acho que é um completando o outro mesmo.

    adorei esse teu texto, mt delicado.

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